A palavra a Xanana Gusmão, hoje e sempre!

>> 20090828


por Henrique Botequilha e Miguel Souto, da Agência Lusa (DN Globo | Hoje)

"Os sacrifícios de 24 anos de luta dos timorenses foram em vão se continuarem os ciclos de violência no país, avisou, em entrevista à Agência Lusa, em Díli, o primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão.
A poucos dias da celebração dos dez anos da consulta popular de 30 de Agosto de 1999, que conduziu Timor-Leste à independência, o chefe de Governo e ex-líder histórico da resistência, lembrou que, desde então, o país tem sofrido "ciclos viciosos de violência", que, "por destino ou coincidência", aconteceram de dois em dois anos.
O lado mais positivo dos últimos dez anos, segundo Xanana Gusmão, foi "a construção do próprio Estado", depois da violência de 1999, quando, em resultado da escolha da população pela independência, milícias integracionistas, enquadradas pelo exército indonésio, destruíram o país e deportaram 250 mil pessoas, deixando mais de 1200 mortos.
Xanana Gusmão afirma que, quando regressou a Díli, após sete anos na cadeia, "estava tudo parado, não havia nada a funcionar".
Depois desse "parto difícil", as instituições do Estado começaram a ter lugar jurídico para se desenvolver", recordou Xanana Gusmão,
Por outro lado, a parte negativa da evolução do país "foram os ciclos de violência que deixaram o povo a sofrer mais".
A população, assinalou o primeiro-ministro, estava feliz por ter terminado a guerra e ganho a independência, "mas não tinha o mínimo de sossego por falta de harmonia e de tolerância política", num clima que "que não podia trazer outra coisa que não fosse a frustração".
O último desses ciclos teve o seu auge no dia 11 de Fevereiro de 2008, quando o Presidente da República, Ramos-Horta, foi gravemente ferido na sua residência em Díli, num ataque atribuído ao major rebelde Alfredo Reinado, que morreu no local.
O carro do primeiro-ministro foi atacado na mesma manhã e, um ano e meio depois, Xanana Gusmão, prefere não dizer quem pensa que atentou contra ele.
"Não sou juiz de ninguém, nem pretendo, cabe ao tribunal indicar as provas e os dados que têm", respondeu,
O chefe de Governo, tal como Ramos-Horta, situa os ataques de 11 de Fevereiro como o início de uma reflexão global para acabar de uma vez por todas com os conflitos em Timor-Leste.
"Nós timorenses (ou os que pensam como eu), temos de reconhecer que somos ainda uma sociedade que necessita de mais maturidade política", sustentou.
"Como vimos de um conflito muito prolongado", prosseguiu, "precisamos de mais tempo do que os outros povos".
Por isso, desde o dia 11 de Fevereiro, a liderança timorense "tem vindo a imprimir uma política de forma a que todas as pessoas compreendam que os sacrifícios de 24 anos foram em vão se continuarmos este ciclo de violência, de desarmonia, de desunião, de desentendimento"." (Lusa | DN Globo)

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