Timor necessita de médicos para mães e crianças, diz bispo

>> 20091208

Foto: Helena Espadinha



Díli, 8 dez (Lusa) – O Bispo de Díli, D. Alberto Ricardo, disse nesta terça-feira ser urgente que o país asiático seja dotado de estruturas de assistência materno-infantil, tendo em conta os níveis preocupantes de mortalidade.

D. Alberto Ricardo falava na entrega formal pela Fundação Mater-Timor, de iniciativa do Patriarcado de Lisboa, da Maternidade-Escola Nossa Senhora de Fátima à Diocese de Díli.

“Quase 90 em cada mil crianças morrem antes do seu primeiro aniversário, cerca de 130 em cada mil crianças não sobrevivem até aos cinco anos e 660 em cada 100 mil mães morrem durante o parto. Estas cifras alarmantes exigem que o país seja dotado de infra-estruturas capazes de responder a estas necessidades”, realçou o bispo de Díli.

Presente na cerimônia, o presidente timorense, Ramos-Horta, mostrou-se confiante de que a saúde pública vai melhorar no país, com a formação de médicos em andamento e sua respectiva distribuição pelo território.

“Há dezenas já de médicos timorenses e centenas de enfermeiros, mais de mil médicos potenciais timorenses nos próximos cinco anos, sendo 800 formados em Cuba, 200 em Timor e outros em diferentes outros países, pelo que, com tempo, Timor-Leste deixará de ter falta de médicos”, disse o presidente à Agência Lusa.

Dados recolhidos pela Fundação Mater-Timor indicam que uma em cada 16 mulheres em Timor-Leste morrem durante a gravidez e uma em cada dez morre devido a complicações relacionadas com a gravidez e o parto. Além disso, apenas 27% dos partos são devidamente assistidos, segundo um estudo de 2007 do Instituto de Ciências da Saúde.

Questão cultural

Além da falta de estruturas e de profissionais de saúde qualificados, existem fatores culturais e tradicionais que contribuem para esse quadro negro.

As grávidas recorrem quase que exclusivamente às parteiras tradicionais, excepto em casos dramáticos quando surgem complicações graves, e há práticas que radicam em crenças tradicionais desfavoráveis à saúde da mãe e da criança.

A Fundação dá como exemplo que tradicionalmente só seja permitido às mulheres, após o parto e até ao seu restabelecimento, comer arroz, açafrão, gengibre para mascar e malos (uma das folhas que ajuda no processo de cicatrização).

Em relação aos bebês recém-nascidos, não lhes é permitido mudar de roupa durante 40 dias e, durante este período, mãe e bebê ficam geralmente perto da lareira e não tomam banho.

Em todo o país existem apenas cinco hospitais distritais (Maubisse, Suai, Mailana, Bobonaro e Viqueque) e um Hospital Central (Hospital Guido Valadares em Díli).

Fora isso, existe apenas um médico por cada quatro mil habitantes, sendo o objetivo do Ministério da Saúde dispor de um médico por cada mil habitantes em 2015.

Na área da saúde materno-infantil não existem obstetras e ginecologistas locais, sendo os partos e outros cuidados materno-infantis assegurados por médicos de outras especialidades e outros técnicos de saúde.

1 comentários:

Anónimo,  terça-feira, 8 de dezembro de 2009 às 20:12:00 WET  

Uma das coisas que mais me chocou em Díli foi o incrível número de sepulturas de crianças muito novas que se encontram no cemitério de Santa Cruz. Nunca tinha visto nada semelhante. A mortalidade infantil, que era para mim um dado estatístico, passou a ter materialização concreta, infelizmente.
Em Junho do presente ano, partilhei uma casa da Cooperação portuguesa em Colmera com uns enfermeiros, um dos quais estava a fazer formação de parteiras. Ele dizia que elas eram muito boas profissionais, ávidas de saber e de aprender, mas com muitas ideias enraizadas que hoje são recusadas pela medicina moderna. Por isso, o trabalho a fazer é muito complicado, e vai, muitas vezes, contra o saber tradicional (como é referido no texto).

Rui Ramos

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