O Tribunal que julga o processo do atentado contra o Presidente e o Primeiro-Ministro de Timor-Leste, em 2008, decidiu hoje aguardar por respostas que Ramos-Horta ainda não deu a perguntas do Ministério Público.
O colectivo presidido pelo juiz Constâncio Basmery decidiu deferir o requerimento feito pelo procurador Felismino Cardoso, no sentido de o Presidente da República (que se encontra no estrangeiro) responder a perguntas que lhe haviam sido formuladas e cujo pedido não satisfez integralmente.
Dado tratar-se da primeira figura do Estado, o Tribunal de Díli, onde corre o processo, necessita da intermediação do Supremo Tribunal de Recurso para se dirigir ao Presidente da República.
O requerimento do Ministério Público foi prontamente contestado pela defesa, nomeadamente pelo defensor público André Fernandes, que lembrou a situação de arguidos presos.
O causídico pediu ao Tribunal que indeferisse, pelas mesmas razões com que havia indeferido um outro requerimento, mas da defesa: por ser um expediente dilatório.
Felismino Cardoso não gostou e reagiu de pronto, afirmando não costumar praticar actos para provocar o atraso processual.
"Não é por requerer mais dois ou três dias que creio ser o Ministério Público responsável pela demora do processo", respondeu.
O que Felismino Cardoso não disse e, pelo menos a defesa estava interessada em saber, foi a que perguntas é que Ramos-Horta não respondeu e que para a acusação "são importantes para a descoberta da verdade".
Foi um dia dedicado a requerimentos na sala de audiências do Tribunal de Díli.
De um outro requerimento, esse indeferido, falou André Fernandes: o que apresentou para que fossem apresentados em Tribunal os objetos apreendidos, nomeadamente a arma de Alfredo Reinado.
André Fernandes, que representa no processo o tenente Salsinha (tido como um dos cabecilhas a par de Alfredo Reinado) e outros arguidos, queria se certificar de que a arma em causa não está danificada por ter sido, ela própria, atingida por algum disparo.
Inconformado com a decisão do colectivo de o "obrigar a analisar através do álbum de fotos e não diretamente os objetos, que deviam estar junto aos autos, ou, pelo menos disponíveis", André Fernandes anunciou que vai apresentar recurso dessa decisão.
O julgamento prossegue dia 18, com 28 arguidos a aguardarem o seu desfecho, no confronto de duas teses: a do Ministério Público que os acusa de envolvimento num duplo atentado planeado contra o Presidente e o Primeiro-Ministro, e a da defesa, orientada para demonstrar a sua inocência e que considera que o que houve foi uma cilada para atrair Alfredo Reinado e Leopoldino Exposto à casa de Ramos-Horta, onde foram mortos.
Aqui se transcreve um artigo SOL = Jornalismo Visceral?, original do blogue Ma Ke Jeto, Mosso[bluewater68], por se considerar que o texto deve ser lido e divulgado. Assim, e com a autorização devida (e que agradeço!), passo a reproduzir - sem as imagens (que podem/devem ser vistas no blogue supracitado).
«Hoje, após ter gasto 2,5€ no SOL, fiquei com a sensação de ter adquirido gato por lebre. Sobretudo porque considero que os jornais semanários costumam ser sinónimo de excelência. É esse o motivo que também me leva a adquirir o jornal Expresso. Se procurasse o sensacionalismo ou a obscenidade, teria outros títulos de jornais à disposição. Mas não é o caso. Repito, procuro jornalismo de qualidade, objectividade e isenção.
A imagem seguinte é relativa à capa da edição impressa do jornal SOL, exposta a todos os que passassem em muitos pontos de venda por esse Portugal fora.
O CORPO do major Alfredo Reinado, no local onde foi abatido pelas forças afectas ao Presidente Ramos-Horta. Esta foto faz parte de um lote de imagens que o SOL divulga hoje em primeira mão. Em próxima semana publicaremos uma extensa reportagem da nossa enviada Felícia Cabrita, que falou com o Presidente timorense quando este ainda estava hospitalizado em Darwin, e recolheu uma série de documentos que ajudam a explicar o que sucedeu em Díli.
Começo por falar desta lamentável foto do falecido major Alfredo Reinado, que foi colocada em primeira página, logo por baixo da foto do senhor Presidente da República.
Em todos os acontecimentos violentos, deverão estar associadas imagens violentas. Que ninguém tenha dúvidas a esse respeito. Quando eu oiço falar em acidentes brutais por essas estradas portuguesas, penso sempre nos bombeiros ou nos elementos do INEM, e interrogo-mo se conseguem dormir, após terem visto uma verdadeira carnificina nesse mesmo dia. O espectador que numa notícia vê as imagens de um carro completamente desfeito terá alguma dificuldade em imaginar o estado em que ficou o corpo do condutor? É preciso mostrar um corpo desfeito para que o espectador perceba o que aconteceu? Num desastre, existe sempre a preocupação de esconder a retirada dos corpos de dentro das viaturas. E mesmo que as objectivas captem algo, existe um ‘código de honra’ ou deontológico que impede a publicação de imagens de cadáveres, inteiros ou desfeitos. Nem que seja por absoluto respeito ao ser humano que acabou de falecer.
É preciso mostrar um pedaço de um braço, caído no chão de um mercado de Bagdad, para se perceber que o atentado suicida foi violento? A notícia sobre o atentado precisa de mostrar essa imagem? Dizer que 100 iraquianos morreram num ataque suicida tem menos impacto que mostrar uma imagem de um corpo cortado pela cintura? O espectador fica mais elucidado se vir essa imagem?
A 19 de Abril de 2007, houve um atentado no mercado de Sadriya, em Bagdad. Desse atentado, resultaram 140 mortos e mais de 150 feridos. Falei dele no texto “O que têm Atocha e Sadriya em comum?”. E já nessa altura, tinha mencionado que o SOL tinha sido infeliz na escolha das imagens a exibir sobre o acontecimento. Transcrevo «três fotografias que o SOL publicou na sua página web eram perfeitamente dispensáveis face à violência que apresentavam. Julgo não ser necessário mostrar corpos carbonizados ou decepados para que a notícia tenha mais impacto.»
A RTP, quando divulgou as imagens do ataque a Ramos-Horta, teve o cuidado, como é habitual, de esconder as partes que mostravam a violência do acontecimento. Vimos o corpo do major Alfredo Reinado no chão, mas não vimos o seu rosto. Tínhamos de ver para confirmar que era ele que ali estava caído? Em que termos, vem esta imagem, publicada em primeira página, contribuir para ajudar a explicar o que aconteceu em Díli ou para a objectividade da notícia? Eu preciso saber que a bala que o matou, entrou pelo olho esquerdo e não pelo direito? Faz sentido mostrar esta imagem a adultos e crianças, devido à publicação em primeira página de um semanário de referência nacional?
Pensava que a exposição do cadáver do Sadam tinha servido de aprendizagem para os media portugueses. O SOL deve ter esquecido esse triste exemplo.
O major Alfredo Reinado pode ter atentado contra a vida de Ramos-Horta, mas não merecia um destaque escabroso e pouco dignificante à sua memória por parte de um semanário onde se espera a prática de jornalismo de excelência.
E se a primeira página desta edição do SOL já era um exemplo de sensacionalismo reles ou violência gratuita, o pior ainda estava para ser mostrado na pág. 19 da mesma edição. As 3 imagens seguintes constituem o conteúdo dessa página.
OS INCIDENTES em Díli, de que resultou a morte do major rebelde Alfredo Reinado e ferimentos graves no Presidente Ramos-Horta, proporcionaram cenas de horror, das quais o SOL revela algumas fotos. Houve o cuidado de não publicar imagens – designadamente da autópsia – que poderiam ferir gravemente a sensibilidades dos leitores. A enviada do SOL, Felícia Cabrita, falou com Ramos-Horta e com testemunhas dos acontecimentos, cuja verdadeira versão é ainda desconhecida – e será objecto de extensa reportagem a publicar em próxima edição.
Desculpe? Isto parece um pesadelo e eu ainda me estou a beliscar para ter a certeza de ter lido com atenção. Mas esta edição do SOL é relativa ao dia 1 de Abril, Dia das Mentiras?
Designadamente da autópsia?
Mas alguma vez se podia equacionar a publicação de imagens de uma autópsia? Só o facto de se mencionar essa questão já é ridículo e não será certamente para ser visto com seriedade. Mas tudo é possível.
Houve o cuidado de não publicar imagens que poderiam ferir gravemente a sensibilidades dos leitores?
Perdão? Eu começo por falar da imagem publicada na primeira página. Já chegámos ao ponto em que imagens desse tipo não ferem gravemente a sensibilidade de quem as vê? É normal depararmo-nos na comunicação social com imagens de cadáveres com a cabeça desfigurada em consequência de um tiro num olho? A sensibilidade a que o SOL se refere é relativa a uma pessoa que executa autópsias diariamente?
E em relação à imagem de Leopoldino Mendonça Exposto? Eu não sei se a imagem publicada neste blogue tem a definição suficiente para se entender o que está em causa, mas garanto que na edição impressa todo o detalhe é bem evidente. Pela imagem, pode-se observar que a cabeça desse senhor ficou assente sobre a sua própria massa encefálica, ou por outras palavras, que os seus miolos se encontram esparramados pelo chão. Será lógico imaginar que alguém lhe enfiou uma arma na boca e que disparou a essa distância? É para fazer este tipo de suposições que o SOL publicou estas imagens? Esta imagem não pode ferir gravemente a sensibilidade dos leitores?
E a imagem do corpo do major Alfredo Reinado na mesa de autópsia? Contribui de alguma forma para a objectividade da notícia? Repito, é assim que se demonstra respeito por um ser humano que acabou de falecer?
São imagens de uma violência indescritível, completamente desnecessárias para a notícia em causa, e sem sombra de dúvida, ferem gravemente a sensibilidade dos leitores.
Pergunto ao Director do SOL, José António Saraiva, se é esta a linha de jornalismo que pretende seguir para um semanário ao qual se associa a qualidade, objectividade e isenção? É assim que pretende ultrapassar o Expresso nas vendas? Se é este o caminho a seguir, até pode ser que consiga aumentar as vendas, mas posso-lhe dizer que este leitor assíduo do SOL nunca mais irá desperdiçar 2,5€.
De facto a minha área não é o jornalismo. Por isso, não sei qual é o termo da gíria da comunicação social para designar este tipo de jornalismo. Na minha versão pessoal, chamo-lhe Jornalismo Visceral ou Jornalismo de Sarjeta, mas aceito outras designações.
Nesta edição ficou anunciado que a repórter Felícia Cabrita iria realizar uma extensa reportagem em Timor sobre os acontecimentos que envolveram o atentado a Ramos-Horta. Espero que seja um artigo que apresente a esperada qualidade, objectividade e isenção, ao nível do que tem sido publicado no SOL. Sobretudo, espero que o SOL não volte a praticar este tipo de jornalismo. Ficaria bastante desapontado se tal acontecesse.
Este é um texto publicado por um leitor que confessa ter visto imagens que feriram gravemente a sua sensibilidade. Só gostaria de saber qual é a expectativa que o Directo do SOL tem a respeito da sensibilidade dos leitores deste semanário.
Uma nota final para falar de um exemplo, entre muitos outros, que se poderiam enquadrar em Jornalismo Visceral. Se o SOL já existisse em 1997, enviaria um repórter a França, à procura das fotos da princesa ainda dentro do Mercedes? Não? Porquê!?
Formato do arquivo: PDF/Adobe Acrobat - Ver em HTML relacionadas com os incidentes político-militares ocorridos em Timor...Felícia Cabrita, que falou com ... www.erc.pt/index.php?op=downloads&enviar=enviar&lang=pt&id=531 - publicaremos uma extensa reportagem da nossa enviada Páginas Semelhantes
«As mentiras de Timor, do Caderno Tabu Nº 94, edição 28.06.08, autoria Felícia Cabrita»
Nós os timorenses sempre respeitámos todos os meios de comunicação social portuguesa, assim como nós respeitamos o Povo português.Todos os meios de comunicação social têm um código que se chama Código Deontológico, e têm princípio básico e fundamental, como agência noticiosa que cumpra os princípios da neutralidade ou imparcial.Timor-Leste já é um país Soberano e Independente, já deixou de ser o território não autónomo desde 20 de Maio de 2002, já não está sob a jurisdição portuguesa e Portugal já não é potência administrativa de Timor-Leste.
Estamos sensibilizados com todo o apoio incondicional e carinho da imprensa portuguesa durante os tempos difíceis como em Setembro e Outubro negros que o nosso povo enfrentou em 1999.
Foi sempre uma honra ter esse apoio e orgulhámos por isso. Mas não queremos ser “divididos” pela autoria de alguma imprensa portuguesa, muito menos pelo jornal tão credível como o Semanário SOL.O Povo de Timor-Leste e a sociedade timorenses já têm os seus próprios meios de comunicação e informação, embora ainda frágeis e inconsistentes no rigor informativo, mas os tem.Como tal, nós os timorenses condenamos e estamos contra com indignações o jornal Semanário SOL, pela ingerência nos assuntos com caracteres políticos internos que só cabem aos timorenses a tratarem.O Semanário SOL infringiu o seu princípio de neutralidade por dedicar, quase jornal inteiro em relatar as informações sobre os acontecimentos em Timor nos últimos dois anos, só e apenas com base nas versões de uma parte, de assuntos internos dos timorenses.
As informações divulgadas pelo Semanário SOL, apenas contar os efeitos que até mal contada sobre a crise de 2006, sem referir nenhuma das causas. Além de contar mal os efeitos da crise em termos cronológicos, o SOL relatou de forma tendencial todos os acontecimentos desde a crise de 2006 até aos atentados de 11/02 passado, a favor de um sector político – partidário timorense. Por exemplo, o SOL não referiu o erro crasso que o Mari Alkatiri cometeu como PM em ordenar os militares F-FDTL a intervirem nas manifestações.
A decisão em ordenar as F-FDTL feito pelo PM na altura implica dois erros graves : em primeiro lugar, violar claramente a Constituição da República Democrática de Timor-Leste, porque em matéria da segurança cabe as forças da segurança a competência.
Em segundo lugar, a actuação das FA F-FDTL em Tasi-tolu numa situação que se encontrava normal, sem qualquer sinais de emergência que precisasse de uma intervenção das FA. Mesmo que a dita situação com carácter urgência, e precisasse de intervenção por parte das FA F-FDTL, cabe ao PR anunciar o estado de sítio, depois de ouvir os Conselheiros de Segurança e da Defesa (CSD), Órgão Consultivo Político do PR. Mas o que aconteceu foi, a margem da lei e da Constituição, que o próprio Mari Alkatiri ter feita a escrita preto no branco desde 2001.
Em consequência disso surgiu a personagem central desta reportagem, o Comandante da Polícia Militar (PM), o saudoso Major Alfredo Reinado. Porque Alfredo Reinado? Foi Major Alfredo Reinado quem fez acompanhar o Ministro da Defesa e Chefe de Estado-Maior das FA para encontrar com o PM Mari Alkatiri na sua residência oficial em Farol, de onde o Alfredo Reinado tinha ouvido da boca do Alkatiri «ordem para disparar contra manifestantes». Depois de receber as ordens do PM, o Major Reinado perguntou ao Chefe de Estado-Maior, «onde está o mandato por escrito», a resposta do Comandante foi «já não tem tempo para escrever a carta».
Não citou o motivo da alegada discriminação no seio das F-FDTL, consequentes descontentes de 1/3 de elementos dos militares que deu origem aos peticionários, sendo principal causa da crise de 2006. O SOL também não disse nada sobre a incompetência do ministro da FRETILIN que tutela a pasta de defesa, o então Ministro Dr. Roque Rodrigues. Também nenhuma palavra a questionar sobre o porque as decisões unilaterais das chefias militares e aceitação do governo da FRETILIN à expulsão dos militares descontentes com consequências eminentes.
Tudo isso, são os sinais da parcialidade da parte SOL e em particular a jornalista Felícia Cabrita autoria da investigação e publicação dos acontecimentos em Timor-Leste depois da Independência.
O pior é que o Semanário SOL não só interferir nos assuntos internos, mas a divulgação de notícias falsas e especulações com base nas versões de pessoas anónimas e pessoas constrangidas pelo partido da oposição ao actual governo.
MARI Alkatiri, antigo 1º-ministro de Timor-Leste, faz graves acusações, implicando-o em vários acontecimentos ocorridos no país. As acusações são feitas num extenso trabalho de Felícia Cabrita sobre a evolução política no território e o atentado contra Ramos-Horta" TABU
Lembro de episódios ao longo do tempo em que os portugueses tinham e têm uma facilidade muito grande em condenar rapidamente... para depois emendarem a mão. A principal personagem em causa no discurso do sr. Vitor Rainho deu exemplos concretos ao longo dessa mesma história de luta pela independência de Timor-Leste e que sempre nos levaram a repensar.
Ao que parece mantêm-se esquecidos numa tentativa, talvez, de vender mais jornais. Parece-me a mim que ganhariam muito mais e venderiam seguramente ainda mais jornais se fizessem investigação mais profunda sobre as coisas, se seguissem os acontecimentos.
Era pedir muito?
Quanto custa a capa da TABU? Estará tabelada?
Qual é a imparcialidade deste artigo?Nenhuma como se lê...
Nasceu a 17 NOV 2007, o blogue UMA LULIK (Casa Sagrada, em tétum) que pretende, maioritariamente, abordar assuntos sobre Timor-Leste. Visitas regulares são aconselhadas e contributos válidos serão bem recebidos! Escreva-nos!