Simão Barreto: “Enquanto Mari Alkatiri dirigir a Fretilin, esta não ganhará”
>> 20120618
A música antes da política ou em pé de igualdade?
Como
cidadão, evidentemente que sou político, isso é inerente à própria condição da
pessoa. Mas acontece que sou músico, a minha vida é preenchida de música e para
a música.
Aceitaria acumular a música ao
exercício de um cargo político? Candidatar-se a deputado, por exemplo.
Se for
convidado e perfilhar ideias que defendo, sou capaz de aceitar.
Como observa a actualidade
política timorense em vésperas de eleições?
Logo a
seguir à independência, não houve verdadeiramente eleições para o parlamento,
porque o então representante máximo das Nações Unidas, Sérgio Vieira de Melo,
decidiu, parece que para poupar dinheiro, aproveitar as eleições para a
Assembleia Constituinte e do resultado delas erguer-se a Assembleia da
República. Até certo ponto justificou-se, terá sido confortável, mas também até
certo ponto foi, politicamente, uma decisão errada.
E a seguir, nas presidenciais,
o eleitorado votou Xanana Gusmão…
Certo. Mas
insisto, deviam ter promovido eleições legislativas e não fizeram. Se tivessem
criado essas eleições, deixando os cidadãos elegerem os parlamentares, a
Fretilin (Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente) não teria ganho
com maioria absoluta e Mari Alkatiri talvez não fosse chefe do governo. Para a
Constituinte, o povo votou maioritariamente na Fretilin, ainda a pensar no
fantasma da Indonésia. Nada prova que, para as legislativas, o sentido de voto
fosse exactamente o mesmo.
A Fretilin, nas eleições de
2007, foi novamente vencedora.
Ganhou, mas
não com maioria absoluta! Para formar governo andou a tentar fazer coligações,
só que nenhum partido aceitou coligar-se com a Fretilin. Foi quando Xanana
Gusmão criou o CNRT (Conselho Nacional da Reconstrução de Timor), juntou uns
partidos e lá se fez uma maioria parlamentar para que a Fretilin conseguisse
governar.
Têm-se entendido?
Fizeram um
esforço para isso. Mas já todos sabemos que a Fretilin, embora sendo um partido
grande, não tem a força e a influência que alguns supunham, até pela razão de se
ter vindo a fragmentar, dando origem a vários partidos. Por exemplo, grande
parte da juventude, sector da sociedade que maioritariamente apoiava a
Resistência e a Fretilin, foi para o PD (Partido Democrático), dirigido por La
Sama. Sem esquecer que outra significativa dissidência é a Fretilin Mudança,
que não aceita a linha dura imposta por Mari Alkatiri. Fretilin Mudança que se
coligou com Xanana e o CNRT.
Nota algum desgaste nos
partidos ou alguma carência de pedagogia política, por parte de políticos e
cidadãos?
Tentam
exercer pedagogia, mas não é fácil. Veja-se em Portugal e na Europa, que
pedagogia política existe?
O que diz do panorama político
em Timor-Leste a poucos dias das eleições?
Chegados a
este tempo, o panorama mudou bastante. Por exemplo, os partidos que fizeram
parte da chamada maioria parlamentar que tem governado já não possuem tanta
influência no eleitorado. O novo cenário, com forças políticas novas que se
formaram e estão a formar-se, irá agora ter uma palavra decisiva, nestas
eleições que se avizinham.
Qual é a novidade
político-partidária em Timor?
Sem dúvida,
a coligação das formações políticas lideradas pelo antigo presidente Ramos
Horta, pelo PD, dirigido pelo presidente da Assembleia da República, Fernando
La Sama, e pelo PNT (Partido Nacionalista Timorense), de Abílio Araújo. Esta
frente política eleitoral será ainda mais reforçada com outros partido
políticos, como se espera. A Fretilin, a da linha dura, também queria
coligar-se, mas não foi aceite, pois como condição impunha Alkatiri para
primeiro-ministro, no caso de vitória eleitoral. Isso não foi aceite.
Qual a figura indicada por esta
nova coligação para o cargo de primeiro-ministro?
Naturalmente
que Ramos Horta!
Pelo que diz, parece que a
Fretilin, perdeu um pouco da sua imagem de indiscutível, por força da sua
estreita ligação à Resistência.
Sobre isso,
repito o que tenho ouvido a muitas pessoas, inclusivamente a militantes desse
partido: enquanto Mari Alkatiri estiver à frente da Fretilin, esta força não
ganhará a maioria absoluta. No fundo, quem está prejudicando a Fretilin é ele.
No dia em que Alkatiri sair da Fretilin, o partido sairá beneficiado.
Nas eleições de 7 de Julho os
timorenses fora do país continuam a não poder votar?
Sim,
infelizmente. Dizem que é tudo uma questão técnica, segundo o actual ministro
dos Negócios Estrangeiros. Não somos muitos, mas temos direito a fazer ouvir a
nossa vontade através do voto. Se em Portugal, por exemplo, somos mil ou 2 mil,
na Austrália somos 40 mil. No meu entender é falta de eficiência. Espero bem
que não seja intencional esta lacuna inconcebível que se arrasta no tempo e que
os timorenses da diáspora não gostam nada. Não devo dizer que é intencional
esta falha grave. Mas digo que esta morosidade, este horrível atraso, é
imperdoável.
Algumas notícias dão conta de
uma aparente fragilidade no actual governo. A ministra da Justiça anda a contas
com a própria Justiça… Está turvo o ambiente no governo?
Não está
turvo, a situação é clara: quem ganhará as eleições é quem irá governar. Os
tribunais e a Justiça é que condenam os que prevaricam, eu não posso dizer
nada, desconheço pormenores.
O Fundo do petróleo, qual a
situação?
Está
depositado na América, destinado a um fundo de investimento.
Será intocável?
Por 20
anos, sim. Faltam 10.
O povo timorense já sentiu
alguns frutos oriundos da exploração petrolífera?
Já, sim,
felizmente está a sentir. Houve quem, sucessivos governos, pretendesse mexer
nesse Fundo, directa ou indirectamente. O que lá está, pertence ao Estado
timorense. Quando legalmente tiver de ser tocado, deverá ser sempre em favor do
povo, do país.
Como vê o papel da igreja
católica?
A igreja
católica fez o seu papel durante a resistência. Actualmente, faz um esforço por
não se imiscuir na política.
Mas mantém bastante influência
junto das populações?
Sim, mas as
populações também já aprenderam como devem comportar-se perante as eleições e a
política na generalidade. Podem não saber ler nem escrever, mas as pessoas sabem
bem o que querem.
A propósito, ciclicamente
tem-se conhecimento de polémicas sobre a propagação da língua portuguesa em
Timor-Leste, a forma da sua utilização…
A língua
portuguesa é também língua oficial, juntamente com o tétum. Alguns dizem que
com a utilização da língua portuguesa há coisas que não funcionam. Não é bem
assim, e as que não funcionam um dia destes vão funcionar, para tudo há uma
questão de tempo. O que nós não queremos é abdicar do português, nem do tétum,
em favor do inglês ou do bahasa indonésio que nada tem a ver connosco. Certas
personalidades é que queriam impor coisas anti-naturais.
Existem factores que contrariam
a perfeita evolução do ensino da língua portuguesa em Timor-Leste?
Existem,
pois. Desde logo a televisão indonésia, que entra fortemente pelo nosso país.
Evidentemente que há casos de necessidade de falar bahasa indonésio, é um dos
meus materiais de trabalho, como será o de muitas pessoas. As crianças, não. No
entanto, muitas crianças andam falando mais o bahasa e o inglês do que outras
línguas, do que português.
O que diz sobre a aceitação dos
professores portugueses em Timor?
Evidentemente
que são bem aceites, porque os portugueses são sempre bem aceites. Eu sou
timorense e português, tenho os dois passaportes com muito orgulho. Conheço
muito bem e gosto muito dos portugueses, mas de muitos daqueles professores não
gosto da maneira como resolvem viver em Timor-Leste. Isolam-se, vivem num
gueto, somente entre eles, não se misturam com o povo, ficam longe da realidade
autêntica do país onde trabalham. Muito daquele povo timorense fala português e
quer aprender a falar cada vez mais. E essa gente que ensina língua portuguesa
deve também aprender a falar tétum, até porque é uma língua oficial.
As relação institucionais e
afectivas entre Timor-Leste e Portugal permanecem em alta?
São
óptimas. Não esquecemos que o povo português sempre foi muito amigo do povo
timorense.
Sendo um timorense de gema, mas
também um português autêntico, o seu coração divide-se por duas pátrias?
No meu
coração cabe tudo. Os meus dois passaportes viajam sempre comigo. E sou do
maior clube do mundo que é o Benfica!
Metendo música na política. A 30
de Maio, em Pequim, o maestro esteve presente, dirigindo um concerto de
celebração do 10º Aniversário da Restauração da Independência de Timor-Leste.
Como foi?
Momentos
inesquecíveis! Fui convidado pela Embaixada de Timor-Leste em Pequim, através
da nossa embaixadora Vicky Tchong. Esteve presente o nosso ministro dos
Negócios Estrangeiros, Zacarias Costa. Dirigi o Quarteto Lafaek, que significa
Crocodilo e tem a ver com o nosso símbolo, uma antiga lenda. Juntamente com a
célebre soprano chinesa Xia Yu, interpretámos peças de minha autoria, temas
tradicionais timorenses e de autoria de Xian Xing Hai. Destaco que foram
cantados poemas em português, de Miguel Torga, Ricardo Reis e do poeta e
prosador natural de Díli Fernando Sylvan. Foi uma cerimónia lindíssima e muito
emocionante, de homenagem a Timor-Leste, e também de homenagem a Portugal, pois
eu também sou português, somos povos amigos e irmãos.
E tudo isso na capital da
China.
A China
sempre foi um país nosso amigo. Esta celebração é também uma homenagem à China
e ao povo chinês que nunca nos abandonou durante a luta até hoje, que somos
nação independente. Mesmo quando outros nos abandonaram. É com mágoa que
dizemos que Portugal nos abandonou. Não o povo português, mas Portugal como
instituição formal, quando a Indonésia, não o povo, mas quem deu ordens, nos
invadiu e massacrou. A China nunca nos abandonou, continua a dar-nos valiosos
auxílios, com o seu dinheiro e com os seus técnicos. Timor-Leste deve muito à
valiosíssima ajuda da República Popular da China.
O seu sonho, o desejo maior
neste momento, em relação a Timor?
Que fosse
possível construir um edifício que alojasse a Escola de Música em Díli. Tenho
enorme esperança de que em breve seja possível.
Qual é o seu político timorense
de referência?
Há um homem
que muito respeito, por ser um grande político, com gigantesca capacidade. Esse
homem é Ramos Horta.
1 comentários:
B. dia sr barreto disculpa mais n ita nia comentario nebe ..laiha base fundamental fo culpa ba ema seluk ..tambah saida ???
tambah ami nebe hanesan militante fretilin la sente prezensa lederansa cmrda marie halo lakon fretilin iha elisaun ida nee tambah ,ita boot hatene ...ddk karik ema balu mk senti lakon iha elisaun nee, ami fretilin manan tambah kadeira iha parlamento sae husi 21 ba 25 ....??? tambah iha lideransa hanesan marie alkatiri. viva fretilin aluta continua
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