Tomada de Posse do PR Taur Matan Ruak

>> 20120520


Foto: Ann Turner

ALOCUÇÃO DE
SUA EXCELÊNCIA O PRESIDENTE TAUR MATAN RUAK
POR OCASIÃO DA TOMADA DE POSSE
Taci Tolu, 20 de Maio de 2012

Excelências,
Convidados e Amigos,
Amado Povo de Timor‐Leste!

Sentindo o peso das responsabilidades mas firmado no exemplo da Vossa capacidade de fazer face a todas as adversidades que a vida nos tem colocado, dirijo‐me a todos: Povo de Timor‐Leste, amigos e convidados nacionais e estrangeiros. Em nome do Estado de Timor‐Leste, saúdo todos de forma calorosa e agradeço os nossos convidados vindos de tão longe e que nos honram com a sua presença. Muito obrigado por partilharem este momento tão recheado de significado.

Acabo de tomar posse como 5º Presidente da República Democrática de Timor‐Leste. Neste mesmo local, em 1989, Sua Santidade o Papa João Paulo II celebrou missa.

Há dez anos, também neste local, festejámos com o nosso Povo e perante o mundo, a restauração da nossa independência e a tomada de posse do nosso terceiro Presidente, Kay Rala Xanana Gusmão.

Recebo hoje a responsabilidade de chefiar um Estado em paz, sereno e estável. O meu antecessor, Presidente José Ramos‐Horta dedicou as últimas quatro décadas ao serviço do nosso Povo e do nosso país. É uma referência exemplar, de trabalho e de entrega, em que todos nos devemos inspirar. Agradeço a forma como coordenou a transição assegurando que decorresse de modo competente e sereno.

A força que me motivou a iniciar este caminho da responsabilidade da chefia do Estado de Timor‐
Leste proveio do Povo de Timor‐Leste, mas também me foi transmitida pela minha família, a minha
mulher, os meus filhos, os meus irmãos e parentes e os meus amigos.

Assumi a responsabilidade que hoje me é formalmente concedida, em resultado de eleições livres e justas. Mas também assumo esta responsabilidade em resultado de um chamamento que foi gerado por tudo o que ouvi do nosso Povo, pela análise que fiz da situação do nosso país e da nossa História, por aquilo que acredito que pode ser o nosso futuro.

Quando olhamos a nossa História verificamos inúmeros momentos em que o trabalho árduo,
dedicado e honrado levantou o nosso país, tirando‐o de uma situação de destruição e caos. A nossa
História é de luta, é de muito trabalho. Por isso conseguimos chegar até aqui, até ao dia em que
iniciamos a celebração do 10º aniversário da restauração da independência.

Este passado de trabalho e de dedicação ao país ‐ que tanto nos deve orgulhar ‐ tem de ser revivido, tem de ser transposto para o presente, para retirar o nosso Povo e o nosso país de um estádio em que a maioria é pobre para um estádio em que a maioria é próspera.

Só com trabalho e dedicação ao futuro do nosso país é que alcançaremos o tão desejado desenvolvimento social, económico, físico, político, científico e cultural que o nosso povo merece e tem o direito de viver.

Hoje, quando fazemos o diagnóstico do nosso país, vemos claramente que já alcançámos muito ‐ de que nos devemos orgulhar enquanto Povo e Nação ‐, mas também devemos, com honestidade, reconhecer, enfrentar e corrigir as deficiências que subsistem.

Ao celebrarmos este 20 de Maio, o país tem de se unir em torno de objectivos concretos.

Objectivos que o nosso Povo sinta justificarem e merecerem o esforço e trabalho de todos os timorenses, pois, alcançá‐los, significará alcançar o bem‐estar, a prosperidade, a segurança, a estabilidade e a coesão nacional.

Durante a campanha eleitoral apresentei uma Visão, onde detalhei as linhas de orientação e as prioridades para a transformação do nosso país. Foi com base nesta Visão que fui eleito.
Assim, as minhas maiores preocupações são: a Segurança e o Bem‐estar. Este binómio é indissolúvel.

A soberania e a independência nacionais fundamentam‐se num sistema económico coerente e sustentável, que, por sua vez, lança as bases do bem‐estar.
Penso ser crucial alterar a essência do sistema económico em que se assenta o país.

A diversificação da nossa economia, conjugada com um sistema de produção que garante a criação de emprego e reduz a dependência externa, implica fortalecer o sector privado nacional e aproveitar, de forma racional e sustentável, os imensos recursos naturais com que a natureza nos abençoou.

Parte significativa deste desafio obriga
‐ a formação e qualificação dos nossos recursos humanos, devidamente imbuídos de valores patrióticos e éticos;
‐ a descentralização da actividade económica com a criação de polos de desenvolvimento devidamente infraestruturados e dotados de recursos humanos;
‐ a capacidade de atrair investimento externo, preferencialmente em associação com o empresariado timorense e com a criação de emprego para os nossos cidadãos, que não se limite aos principais centros urbanos.
‐ a redução da dependência externa e do petróleo.

São condições mínimas e viáveis para o aproveitamento integral de todo o nosso potencial, de modo
a assegurar a satisfação das necessidades do nosso Povo.

É pois urgente dar maior atenção às zonas do país onde a acção do Estado não se faz sentir e onde o  progresso social, físico e económico tarda em chegar.

Simultaneamente, a vivência democrática, o respeito integral pelos direitos e deveres dos cidadãos, o reforço do espírito de tolerância e a consolidação do nosso Estado de Direito, propiciam a coesão social e a unidade nacional.

Como garante do funcionamento das instituições, afirmo que é essencial envolver os cidadãos neste processo de transformação do nosso país no sentido do arranque definitivo para o progresso. A inclusão dos nossos cidadãos é indispensável para um bem‐estar sustentável e duradoiro.

A segurança e bem‐estar do nosso Povo, a consciencialização dos nossos cidadãos de que somos um só Povo, o aperfeiçoamento do sistema de defesa e segurança, complementado pela acção diplomática no desenvolvimento de relações de boa vizinhança e cooperação equitativa na região e no mundo, são o garante mais certo da integridade de Timor‐Leste.

Não é possível pensar a segurança nacional sem ter em conta a interacção com os países da região e do mundo. Na era em que vivemos, é impossível escapar aos acontecimentos que têm lugar noutros pontos do planeta e que, de uma ou outra forma, modelam a vida de todos nós.

Timor‐Leste recebeu e beneficiou do apoio e generosidade da comunidade internacional para afirmar o seu direito inalienável de ser livre e soberano. Foram muitas as organizações e indivíduos que deram o seu apoio incondicional. Posteriormente, a assistência a Timor‐Leste assumiu um carácter mais formal e de Estado, o que permitiu a sua reconstrução física e a configuração do Estado.

Quero usar esta ocasião para, a todos, expressar a nossa gratidão e o nosso reconhecimento.

Timor‐Leste e o seu Povo querem um País de Paz, aberto ao mundo e em diálogo com ele. Somos membros da ONU, da CPLP, do Movimento dos Países Não‐Alinhados, somos membros de diversas organizações do Pacífico, e damos passos seguros para nos inserirmos na ASEAN.

Esta condição de membros de múltiplas organizações internacionais e o trabalho que também realizamos em inúmeras outras organizações estatais e não‐governamentais, são uma alavanca para tornar a cooperação num instrumento útil no alcançar dos grandes desígnios nacionais. No quadro das nossas obrigações internacionais reafirmo a determinação de Timor‐Leste em cumprir as convenções, os pactos e acordos que subscreveu ou que venha a subscrever no futuro, sempre que contribuam para a Paz, o respeito pelos direitos humanos e o bem‐estar e segurança do nosso Povo.

Todos os desafios que temos pela frente implicam TRABALHO.

As dádivas da natureza têm de ser regadas com o suor do nosso esforço! Alturas houve em que nos foi exigido o sangue e a luta, hoje, é‐nos exigido o suor e o trabalho!

O reforço da nossa Identidade Nacional, o gerar do orgulho de sermos timorenses, o resgatar dos valores legados pelos nossos antepassados, que configuraram a nossa História, são factores cada vez mais pertinentes num mundo em rápida mudança onde as soberanias se desgastam e as fronteiras se esbatem.

Este é o NOSSO país e, independentemente do apoio e cooperação que países amigos e parceiros de
desenvolvimento possam prestar, a responsabilidade de transformar o país é NOSSA!

Essa transformação é possível. É disso que falamos ao referirmo‐nos ao desenvolvimento social, económico, físico, político, técnico‐científico e cultural. Mas, falar apenas do que é necessário fazer não chega.

É fundamental que todos os timorenses sintam o futuro como seu.
É fundamental que todos os timorenses se empenhem na transformação de Timor‐Leste.
É fundamental que todos os timorenses encarem o trabalho árduo e ético como o seu contributo individual para um país que é de todos nós e deve assegurar o bem‐estar e a estabilidade a todos.

Ao assumir hoje o cargo de Presidente da República, assumo perante o Povo ser o exemplo do que hoje estou a pedir‐vos: trabalhar arduamente, assumir ética profissional e de cidadania, respeitar profundamente a Constituição e as instituições que salvaguardam e aprofundam a democracia e o Estado de Direito e cumprir o objectivo supremo de servir o nosso Povo.

É este o caminho que peço que percorram comigo. Para que, dentro de cinco anos já possamos olhar para trás e dizer: o esforço valeu a pena! O país está diferente. A estabilidade é sentida por todos. O bem‐estar começa a ser vivido por aqueles que mais merecem, que se esforçam, que trabalham e apenas nos pedem para viver com dignidade e em Paz.

Queridos Timorenses,
Povo de Timor‐Leste,

Não temos tempo a perder com conflitos e palavras duras e sem significado.
Já não há espaço para pensarmos na fama, prazeres, poder e riqueza pessoais.
Chegou o momento de trabalhar arduamente, o momento de olharmos para o futuro, o tempo de caminharmos juntos para sairmos da pobreza e do sofrimento que destrói as nossas vidas e o futuro.

Demos as mãos para, juntos, transformarmos a nossa Nação num Timor‐Leste rico, forte e seguro.
Deus nos abençoe a todos.

Muito Obrigado!



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