Timor: um país por cumprir

>> 20100830

Se a liberdade tivesse hora para nascer, Timor não seria um dos países mais jovens do Mundo.

Quando Timor se tornou um país independente, já Sofia tinha sido ultrapassada por 100 anos de vida. Há muito que deixou de contar os dias que insiste em passar. Perdeu-se no tempo mas não no espaço.



Sofia Alda da Silva: “Eu não sei os meus anos. Os meus anos já passaram. Sei que fui para Dili, a companhia de Taibessi não existia e eu cresci em Taibesse.”


Eu agora estou cheia de sono e vocês querem falar comigo” - risos.




Bem contados, são pelo menos 120 anos que lhe moldaram a pele e a personalidade. Sofia Alda da Silva guarda no nome um país que sempre conheceu à distância, atravessou a História a trabalhar e foi na fazenda Algarve que encontrou um poiso certo.


Foi aqui, no distrito de Liquiçá que Manuel Viegas Carrascalão, preso político depurtado para Timor nos finais dos anos 20, refez a vida. Deu à fazenda que comprou o nome da terra onde nasceu e a Sofia a responsabilidade de amparar à nascença, cada um dos 12 filhos que teve. Memórias que ainda hoje lhe colocam um sorriso nos lábios, ao contrário de outras que preferia apagar.



A guerra de 75 foi horrível, as pessoas mataram-se, provocaram-se uns aos outros. Tivemos de fugir. Fugiram todos de autocarro. O melhor é eu ficar calada porque eu não sei do paradeiro dos meus filhos.”



Viu a casa onde sempre trabalhou três vezes ser destruída para três vezes ser reconstruída. As milícias pró-Indonésia enterraram-na até ao pescoço e deixaram-na entregue à sua própria sorte.


Aqueles que me quiseram matar já nem sei onde estão. Bateram-me em mim aqui. Os que me bateram e atacaram aqui estão todos mortos.”



Eu já não tenho dentes agora vocês querem que eu fale?!”



É complicado falar abertamente para quem durante 24 anos foi obrigado a ficar calado.


A 30 de Agosto de 1999 os timorenses substituíram as palavras que nunca disseram por uma votação expressiva. Quiseram ser independentes e com isso ditaram o fim da ocupação Indonésia.



Ramos Horta: “Fizemos as pazes com todo aquele mundo que esteve do lado errado da História, da trincheira. Em primeiro lugar, a Indonésia; segundo, Estados Unidos que providenciava ao Estado indonésio, ao regime da altura o equipamento bélico e a Austrália que também foi o país que mais apoiou a Indonésia durante os anos de ocupação.”



A independência restaurada em 2002 revelou afinal uma enorme dependência da comunidade internacional. Sem dinheiro e sem a paz interna necessária, Timor viveu a última década numa crise permanente, pontuada pela violência.


O episódio mais recente aconteceu há dois anos. Ramos Horta, Nobel da Paz em 96 e actual Presidente da República de Timor-Leste, foi vítima de um atentado que quase lhe roubou a vida. Hoje fala de um país mais próximo da reconciliação.



Ramos-Horta: “Haverá pela própria estatística da polícia das Nações Unidas, que Timor-Leste hoje tem uma tacha/indice de criminalidade dos mais baixos do mundo. O que não significa que os problemas estão completamente resolvidos, ultrapassados, ainda existem problemas. Subsistem nos bairros, entre jovens, ditos grupos de artes marciais que esporadicamente se batem, mas não usam armas de fogo, usam pedradas entre eles.”



A música, língua e o verde dos carros faz com que a GNR seja hoje uma das presenças mais marcantes de Portugal em Timor. Quatro anos e nove contingentes depois, a guarda portuguesa já raramente usa a força para manter a ordem pública. Na maior parte dos casos, basta aparecer.



Marco Santos – Capitão da GNR: “A GNR em Timor tem um efeito dissuasor e a própria presença da GNR leva a que, à partida, se minimizem problemas maiores. Os timorenses gostam da GNR, os timorenses acarinham, sinto carinho da parte dos timorenses para com os portugueses, para com a GNR e isso é um grande trunfo que nós temos.”




Depois do atentado a Ramos Horta a GNR passou a fazer segurança pessoal ao Presidente. Hoje preparam a Polícia timorense para essa tarefa a pensar na saída que está prevista para 2012. É pelo menos essa a data limite da Missão das Nações Unidas.



Ramos-Horta: “Creio que em 2012 as Nações Unidas podem finalmente fazer as malas, sair do país com um grande agradecimento de Timor-Leste. Nós timorenses, temos que crescer, politicamente, assumir as nossas responsabilidades, sermos dignos do sacrifício deste povo. Sermos dignos da confiança dos investimentos da comunidade internacional. Não o fazendo, não serei eu a voltar às Nações Unidas e a classe política timorense sabe toda ela, ordenada pela comunidade internacional e pelo povo.”



Os anos passaram e em Timor continua quase tudo por fazer. As estradas que serpenteiam montes e montanhas viram o primeiro e último alcatrão do tempo dos indonésios.


180Kms correspondem a seis horas de uma viagem cansativa, perigosa e com muitos precalços pelo meio.


Xanana conhece estas montanhas como poucos e durante um mês resolveu voltar a percorrer os caminhos da resistência.



É em Alas, no distrito de Manufahi que o vamos encontrar numa espécie de Governo aberto, a que a oposição chama “campanha eleitoral antecipada”.



O ídolo de um povo transforma-se aos poucos numa espécie de Deus vivo, capaz de mobilizar tudo e todos mas Xanana tem mais para oferecer. Tráz no discurso a promessa da reconstrução, a promessa de um país novo.



Xanana Gusmão: “Nestes dez anos cometemos um erro fatal que não deveremos cometer mais no futuro. Foi a crise. A crise de 2002 a 2007 que dividiu os timorenses, que destruiu muitos lares mas que depois, como consequência, exigiu do Estado colocar muito dinheiro para reparar. Venho com uma mensagem: nunca mais nos destruiremos a nós mesmos, nos destruamos.”



Benfiquista assumido, Xanana enverga hoje o equipamento do Chelsea, clube ingês que durante quatro anos foi treinado por José Mourinho. É a admiração que tem pelo treinador português que o leva a vestir a camisola azul e agora que Mourinho foi para o Real de Madrid, Xanana diz que está na hora de comprar o equipamento do Inter de Milão.


É este o Xanana que nunca fica sem resposta, do discurso fácil interminável, aguenta-se horas de microfone na mão. Pesadas as diferenças políticas é em tudo igual na forma a outros líderes históricos como Fidel Castro ou Hugo Chavez. Sempre em tétum fala das estradas que quer construir, das escolas que quer recuperar, das centrais electricas que promete espalhar pelo país. Afinal, agora Timor tem dinheiro para gastar.


Xanana Gusmão: “Hoje como estamos numas condições bastante boas, em termos políticos, em termos financeiros, ora o que se coloca agora é que devemos dar toda a atenção, prestar todo o apoio ao nosso povo.”



Timor tem sido um poço sem fundo. A maioria da população continua a viver em condições de pobreza extrema apesar dos milhares de milhões de dólares que deveriam ter servido para a reconstrução do país. Dinheiro que se perdeu entre conflitos, corrupção e falsas ajudas da comunidade internacional.


Ramos-Horta: “O apoio que temos tido é suficiente só que deveria ser melhor investido.”



Repórter, Anselmo Crespo: “Quem é que está a gerir mal?”



Ramos-Horta: “Bom, é mesmo a política dos doadores. Quando 70% da ajuda vai para os seus próprios técnicos, vai para relatórios infindáveis.”



Repórter, Anselmo Crespo: “Ou seja, o dinheiro não está a chegar a quem precisa?”



Ramos-Horta: “Exacto. Não está a chegar a quem precisa.”



Mário Alkatiri: “Se é o próprio Orçamento de Estado que não está a chegar onde devia chegar, muito menos os apoios que vêm de fora.”



Repórter, Anselmo Crespo: “Então onde é que fica esse dinheiro?”



Mário Alkatiri: “Naturalmente que isso, há dinheiro que desaparece, o próprio Governo diz que está a investigar para saber para onde é que foram 2 milhões de dólares que vieram da Coreia, outros tantos que vieram de outro sítio, não sabem para onde é que o dinheiro vai e portanto eu que estou fora do Governo muito menos posso saber” (risos de Mari)



Mário Alkatiri é o principal rosto da oposição, o líder da Fretilin e o primeiro Chefe do Governo de Timor responsabiliza Xanana Gusmão pelo atraso do país. Acusa-o de ser responsável moral pela violência em 2006 e fala de um Governo onde a corrupção é Lei.


Mário Alkatiri: “Eu vejo corrupção, tendo em consideração sinais exteriores de riqueza. Pessoas que não tinham nada antes de serem, antes deste Governo tomaram posse, antes de ser membros deste Governo e agora são pessoas que fazem a vida de uma abastança que o salário só não justifica. Portanto, em qualquer parte do mundo quando há sinais exteriores de riqueza como este, isso, compete ao Governo em primeiro lugar mandar investigar.”



Essa é uma das tarefas atribuídas a Mário Carrascalão. O Vice Primeiro Ministro decidiu começar pela Presidência da República e pelo próprio Governo, no espaço de um ano foram abertos 10 processos e nem um chegou ainda a julgamento.



Mário Carrascalão: “Com 20% do Orçamento Nacional dasaparece quer dizer, portanto, em actos de corrupção e não sei bem, conhecido ainda bem, cientificamente qual é a natureza, qual a quantidade e qual o nível preciso que já atingi, de prejuízo ao nosso processo de desenvolvimento mas sabemos sem dúvida nenhuma que ela existe, que ela precisa de ser combatida.”



A fragilidade das instituições, os discursos políticos inflamados e o desenvolvimento que tarda em chegar criam uma ameaça constante sobre o país. O Governo é formado por cinco partidos que trocam acusações entre si e todos os dias ameaçam com eleições antecipadas.


Mário Alkatiri: “Andam todos aí realmente a manter-se, por se manter só. Mas como Governo, como um colectivo, como uma instituição já não funciona. Há uma crise institucional no Governo.”



Repórter, Anselmo Crespo: “Há uma paz pôdre.”



Mário Alkatiri: “Completamente pôdre, sim.”



Xanana Gusmão: “Cair só eu é que posso fazer cair, se me demito. Se eu conseguir levar este Governo até ao fim do mandato já o povo pode estar à vontade de gritar a qualquer coligação que venha, que vier, com dois com três, se com cinco se conseguiu aguentar cinco anos, por interesses deste povo, por favor, por favor entendam-se!”



Homem de fé, Dom Basílio do Nascimento já acredita pouco nos políticos timorenses, o Bispo de Baucau sente todos os dias a insatisfação crescente de um povo farto de esperar e receia que mais dia menos dia o rastilho se acenda.



Dom Basílio do Nascimento: “ Há um drama para mim, há um drama, uma bomba se quisermos, uma bomba ao retardador, ochalá não rebente, não nunca mas como possibilidade é de admitir. Temos neste momento só em Dili temos dezanove universidades. Vamos a supôr que cada universidade forma vinte pessoas, são trezentos e tal diplomados que saiem cada ano. Para onde é que vai esta gente toda?”



Mário Alkatiri: “Se não se resolver o problema do emprego, naturalmente que mais cedo ou mais tarde isso rebenta, implode.”



Timor é um país quase em estado virgem que guarda uma riqueza incalculável. Do turismo à indústria, das pescas à agricultura entre minérios, madeiras precisosas, gaz e petróleo está quase tudo por explorar. Os interessados fazem fila entre amigos e ex-inimigos estão os suspeitos do costume. Os Estados Unidos, Indonésia e Austrália foram os primeiros a chegar e já se instalaram. A colonização dos tempos modernos já não se faz pela força das armas mas pelo poder do dinheiro.


Repórter, Anselmo Crespo: “Tem algum receio que Timor, o novo tipo de colonização se faça hoje em dia pelo lado económico?”



Xanana Gusmão: “Já existe. Já existe e estamos a tentar sair disso.”



Ramos Horta: “Há grandes interesses a quererem que nós, Timor-Leste, investamos o fundo de petróleo nos seus bancos. Por exemplo, nessas últimas semanas temos tido contactos intensos por parte da Grazpron da Rússia; da Societée General da França; BNP Banco Nacional de Paris, todos eles me contactaram directamente.



Xanana Gusmão: “Ao que nos oferecer melhores condições, é bem-vindo. Agora o problema é “business”. Faz bem, com pouco ou menos dinheiro? És bem-vindo. Agora o problema é “business thinging” não é a amizade, já acabou.



Repórter, Anselmo Crespo: “O coração não fala.”



Xanana: “O coração não pode falar.”



A carapuça serve na perfeição a Portugal, o país que durante anos levantou ao mundo a bandeira de Timor deixou-se ficar literalmente para trás. O investimento português por aqui resume-se a três grandes empresas: a Caixa Geral de Depósitos através do BNU; a Portugal Telecom com a Timor Telecom e a construtora Ensul, a única grande empresa portuguesa totalmente privada. A Delta já abandonou o país e há muito tempo que não chega ninguém de novo.


Mário Carrascalão: “Nós sentimos que os portugueses ainda não se sentiram suficientemente encorajados para virem para Timor.”



Mário Alkatiri: “Não tem sido fácil realmente uma empresa chegar aqui e conseguir afirmar-se porque sabe que as propostas, os custos das empresas asiáticas são sempre muito mais baixas.”



Ramos-Horta: “A nossa burocracia é das mais precárias e ineficientes do mundo. Temos um condão extraordinário para inventar leis e regulamentos.”



Talvez a burocracia mas a dos portugueses neste caso ajude a explicar este terreno vazio. Foi oferecido ao Governo português para aqui ser construída a nova embaixada de Portugal. Já lá vão dez anos e Portugal parece ter-se esquecido que tem este terreno, na avenida principal de Dili, ao lado do Palácio do Governo, mesmo em frente ao mar.


Não foram exemplos destes que levaram a Ensul a investir em Timor há dez anos, a construtora portuguesa encontrou recentemente uma nova área de negócio. Em Dili e em Baucau, abriu dois supermercados com produtos exclusivamente portugueses.



Hugo Ferreira - Páteo: “Existia a necessidade de termos algo mais do que unicamente o negócio, a nossa actividade principal, a construção. Dessa forma surgiu a hipótese de trazermos vinhos e a partir daí foi alargando para diversas gamas, até às últimas que recebmos, de cereais, os enchidos, o queijo, presuntos, charcutaria.”



A concorrência é feroz, os supermercados tipicamente timorenses têm muito pouco de Timor, vendem-se produtos vindos de todo o mundo. Os frangos, por exemplo, vêm do Brasil. A fruta e os legumes também atravessam o oceano para cá chegar e a custo lá encontramos alguns produtos nacionais.


Reporter: “Isto vem de onde?”



Lojista: “Timor”



Reporter: “E mais? O que é que tem aqui mais?”



Lojista: “Este, este de Timor, este da Austrália, Austrália, Timor, Austrália, Austrália, Austrália, Timor. Tudo Singapura.” (referindo-se a um expositor apenas com produtos de Singapura)



Reporter, Anselmo Crespo: “Isto é tudo de Singapura?”



Lojista: “Sim”




Portugal também está nas prateleiras dos supermercados timorenses. Exporta bebidas, alguns livros de português e pouco mais. Pode não parecer mas o português é mesmo uma das línguas oficiais em Timor.


Além do português, o tétum é a outra língua oficial e a mais usada em Timor. Na verdade o tétum não é ainda bem uma língua, é mais um dialecto em formação que absorve muitas palavras do português e do bahasa indonésio. Em Timor não há duas pessoas a falar tétum da mesma maneira mas também há muito poucas a falar português.


Brígida da Costa começou a ensinar a língua de Camões há trinta e cinco anos mas foi forçada a interromper durante o periodo de ocupação indonésia. Vinte e quatro anos que puniram com pena de morte os que fossem apanhados a falar português. A independência levou-a de volta à sala de aula mas para a nova geração de timorenses, Portugal é uma realidade distante e quase desconhecida.



Brígida da Costa: “Para mim eu acho um pouco difícil porque os alunos falam a língua materna, por isso a lingua portuguesa só aplica na sala de aula, é por isso que para eles é um pouco difícil.”





Bastam dois dedos de conversa com uma turma do sexto ano para sentir essas dificuldades.


Repórter, Anselmo Crespo: “Como é que tu te chamas?”



Chamo-me Elisabete Maria Correia”



Repórter, Anselmo Crespo: “Quantos anos tu tens?”


Dez anos”




Repórter, Anselmo Crespo: “Tu já falas muito português?”


Não”



Repórter, Anselmo Crespo para outra aluna: “Tu em casa falas que língua?”





Não, fala o tétum”





Repórter, Anselmo Crespo: “E no intervalo?”


Falo tétum... Dentro da escola falo português.”



Brígida da Costa: “No intervalo, no recreio falam língua materna, a língua tétum.”



Repórter, Anselmo Crespo: “Chegam a casa e falam em que língua?”



Brígida da Costa: “Chegam a casa e também continuam a falar tétum.”



Repórter, Anselmo Crespo: “Quando ligam a televisão vêem a televisão de onde?”



Brígida da Costa: “Eles vêem a televisão da Indonésia, por isso eles falam mais a língua indonésia.”



A Escola Portuguesa de Dili onde só entram crianças de famílias abastadas e influentes, é a excepção num país onde o português é encarado como uma língua difícil de aprender e com muita gramática.



Filipe Silva: “Não é fácil obviamente reintroduzir uma língua em pouco tempo, portanto, isto é um projecto que terá os seus resultados e eu acredito que os resultados mais visiveis, na nova geração ou seja nas crianças que agora vão aprendendo em português ou já vão aprendo em português e que, quando chegarem à universidade poderão de algum modo ser escolarizadas totalmente em língua portuguesa e aí sim, penso que será mais visíveis os resultados da acção que estamos neste momento a ter no terreno.”



Tem que falar a li depois com aquela professora, professora Ana. Ela regista o nome e vamos ver se houber lugar ainda podemos pensar em pô-lo aqui, tá bem? Se não houver tem que esperar para a próxima...”



Filipe Silva é o Coordenador do Projecto da Consolidação da Língua Portuguesa em Timor, um nome pomposo que pode enganar os mais desatentos, é que uma língua que praticamente não é falada dificilmente pode ser consolidada.



Filipe Silva: “Ainda não há um chamariz para que o português seja efectivamente, digamos, para além de estar como língua oficial na Constituição seja efectivamente um factor, por exemplo, de arranjar emprego, de dar melhores condições de vida e efectivamente o Estado timorense, na minha prespectiva terá que gradualmente fazer da língua oficial também a língua dos serviçoes públicos, do funcionalismo público para que ela efectivamente se torne oficial.”



É ingrata a missão dos 120 professores que vieram de Portugal. O objectivo agora é formar professores timorenses para que sejam eles a ensinar português aos alunos e não faltam candidatos num país que tem uma taxa de desemprego de elevada.


Quem ensina usa toda a criatividade disponível mas é fora dos muros das escolas que ela é mais necessária para não deixar morrer o português em Timor.


Filipe Silva: “Se nota que efectivamente há um interesse de querer de algum modo fazer com que o português não se desenvolva e isso nota-se perfeitamente. Há N de jornais, por exemplo como o caso da comunicação social que de algum modo têm financiamento de outros países, o que obviamente não ajuda em nada.”



A pressão para que o inglês se torne língua oficial em Timor, é cada vez maior e isso vê-se em pequenos pormenores, enquanto que dentro das salas de aula se ensina o português, cá fora militares americanos e australianos preparam a reconstrução da escola.


Dom Basílio do Nascimento: “Muito sorrateiramente fazem-se propostas de aprendizagem da língua, enfim há subsídios. Chamam-lhe pequenos subsídios mas se fossem para os meus bolsos eram bem significativos. Mas há.”



Repórter, Anselmo Crespo: “Está a falar sobretudo da Austrália?”



Dom Basílio do Nascimento: “Da Austrália, exacto.”



Em Timor já há até quem defenda que deve haver quatro línguas oficiais: o tétum, o português, o bahasa indonésio e o inglês. Uma ideia que para já não colhe entre os principais líderes políticos. Numa coisa todos parecem estar de acordo, o tétum precisa do português para sobreviver.


Ramos-Horta: “Tudo, daqui a vinte anos, quando o tétum estiver completamente modernizado, funcional como uma língua moderna, vai ver que é quase irreconhecível em relação à língua de hoje, do tétum. Vai ter muitos mais vocábulos português, passaria a ser quase um crioulo.”



Mário Alkatiri: “Tétum com o inglês, o tétum morre. Com bahasa indonésio o tétum passa a ser um crioulo. Só com o português o tétum poderá desenvolver-se.”



Xanana Gusmão: “Os professores que vierem têm que saber falar também, aprender a falar tétum para a comunicação ser mais fácil. Este é o grande problema.”



A escolha do português como língua oficial foi um acto de afirmação de Timor perante os vizinhos asiáticos, sobretudo os australianos e os indonésio mas a liberdade da escolha ainda não corresponde à independência pretendida. Se a língua faz parte da identidade de um povo, as dificuldades que o português encontra em Timor são a prova de que este país ainda não encontrou identidade própria. Na língua como em quase tudo o resto, Timor é um país ainda por cumprir e oito anos é muito pouco tempo para um povo que foi obrigado pela História a valorizar a noção mais básica da independência.”



Sofia Alda da Silva: “Independentes somos todos nós, seres humanos. Independente é ter roupa para vestir e poder andar... Vocês não percebem nada de independência.”



Já está o sol a cair, quero ir já embora.”



FIM



A entrevista pode ser vista aqui: http://sic.sapo.pt/online/video/informacao/Reportagem+SIC/2010/8/timor-um-pais-para-cumprir29-08-2010-2246.htm



Jornalista: Anselmo Crespo - Imagem: Rui do Ó - Edição: Ricardo Tenreiro - Grafismo: Carla Gonçalves - Produção: Isabel Mendonça - Coordenação: Cândida Pinto - Direcção de Informação: Alcides Vieira


6 comentários:

Anónimo,  quarta-feira, 1 de setembro de 2010 às 02:59:00 WEST  

O melhor diagnóstico de Timor que tive oportunidade de ler. Parabéns pelo trabalho!
Brasileiro

Anónimo,  quarta-feira, 1 de setembro de 2010 às 17:24:00 WEST  

Quanto é que custa uma viagem Portugal Timor?

Anónimo,  quinta-feira, 2 de setembro de 2010 às 00:46:00 WEST  

Vejam se esta idéia não é boa. Há muitos jovens interessados em aprender o português pela Ásia. Só em Macau são oito mil. Seria economicamente rentável instalar nas montanhas de timor, no interiorzão da ilha, uma cidade (uma vila na verdade)onde os timorenses que lá quisessem morar deveriam se empenhar em falar o português não só nas suas atividades diárias, mas também com seus filhos; para isso receberiam um apoio financeiro. Nesta cidade existiria um Instituto de difusão da língua portuguesa, hotéis creche, restaurantes, oficinas, centro de artes e tudo mais para receber ao menos metade daqueles chineses que estudam a lígua de Camões e Macau. Além de gerar renda e empregos os asiáticos poderiam viver em um ambiente de plena atividade da lígua portuguesa. Digo isso, pois, no Brasil, existem vários sítios (fazendolas) onde todos são pagos para falar o inglês o que ajuda em muito aqueles que desejam ganhar fluencia na língua.
Poderia ser um horizonte para Timor e os timorenses?

Anónimo,  quinta-feira, 2 de setembro de 2010 às 08:11:00 WEST  

Guetos e "seitas"? Na verdade com dinheiro tudo se consegue e este será seguramente um exemplo disso, já duvido é que seja uma boa prática.

Se com o insuficiente já existente em termos de implementação da língua portuguesa em Timor-Leste, um exemplo desses poderia (e seria) mais uma daquelas belas acções "um país, dois sistemas". De "esquemas" já está Timor-Leste cheio. É só "esquemas".

A criação de "batostões" parece-me má prática. Exclui.

Já agora quais seriam os critérios de aceitação em termos de alunos/as nessa bela ideia? As elites? Para quê se já têm acesso privilegiado ao existente? Para as classes ditas baixas?

Implemente-se e desenvolva-se mas é a rede de escolas da base ao topo.

Anónimo,  sexta-feira, 3 de setembro de 2010 às 21:25:00 WEST  

Certamente o comentarista acima nunca viveu nem estudou os "batostões" de que fala. A língua portuguesa, em Timor, tem que ser mais que uma curiosidade geopolítica; tem que ter também o interesse econômico ( a exemplo do inglês no mundo inteiro)para seduzir não só estrangeiros, mas também os próprios timorenses. É claro que uma iniciativa dessa não excluiu uma boa escola para todos. Na Ásia só Timor-Leste pode oferecer essa história e tradição no estudo da língua portuguesa. Está aí a oportunidade! Quem se habilita?

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