Ramos-Horta cansado de sugestões de «génios» e «einsteins»

>> 20081209

foto antónio josé / na primeira visita de Kay Rala Xanana Gusmão
por baixo da Pala do Siza Vieira / Parque das Nações / 1999


texto abaixo de in Diário Digital

Ramos-Horta cansado de sugestões de «génios» e «einsteins»

O Presidente da República de Timor-Leste afirmou hoje em Díli que está «cansado de génios» e de «einsteins» com receitas para a economia e defendeu a atribuição de subsídios pelo Estado.

«Acredito em subsídios porque vivi nos Estados Unidos da América e na Europa, que subsidiam a sua agricultura», explicou José Ramos-Horta.

«Quando nós aqui nos países pobres subsidiamos algo, porque não há mercado, somos logo criticados«, acrescentou o Presidente.

O chefe de Estado timorense falava na sessão de apresentação do relatório »Pobreza Numa Nação Jovem«, do Banco Mundial e do Ministério das Finanças, que revelou um »aumento significativo« da pobreza no país entre 2001 e 2007.

«Estou cansado dos génios que não se perguntam o que foi feito de errado ou se os conselhos não foram correctos», acrescentou o chefe de Estado timorense, que falou entre a exposição introdutória da ministra Emília Pires e a de um economista do Banco Mundial.

José Ramos-Horta referiu-se aos «einsteins» que questionam as soluções adoptadas em Timor-Leste e noutros países em desenvolvimento.

«Quanto gastaram os doadores em alívio da pobreza?«, perguntou o Presidente da República.

«E quanto afirmam ter posto cá? Talvez a soma seja de centenas, arrisco dizer até de milhares de milhões de dólares. Por que é que a pobreza continua um problema persistente no nosso país?», interrogou o Presidente da República.

«Nós, os (países) que recebemos ajuda dos doadores, estamos sempre a levar pancada por não cumprirmos os programas«, acrescentou José Ramos-Horta.

«Somos avaliados vezes sem conta pelo Banco Mundial e às vezes gasta-se mais dinheiro nas avaliações do que nos programas», referiu o chefe de Estado, deixando claro que era «uma forma de dizer».

José Ramos-Horta desafiou todos os doadores a somarem a ajuda ao desenvolvimento que encaminharam para Timor-Leste desde o ano 2000 «e qual foi o resultado obtido».

A intervenção do Presidente foi especialmente enfática em defesa da concessão dos subsídios.

«Algumas das críticas são absolutamente académicas e sem nenhuma ligação com a realidade«, acusou o Presidente da República abordando as declarações em desfavor dos subsídios.

José Ramos-Horta acusou também de »terrivelmente desinteligentes« as críticas à opção do actual Governo pela produção de energia em duas centrais de nafta a ser instaladas nos próximos dois anos no país.

Para o chefe de Estado, »a energia renovável é ainda muito dispendiosa. Vamos esperar pelo modelo ideal? E quanto tempo vai demorar? Não temos esse tempo a perder«, disse.

Sobre o relatório do Banco Mundial e do Ministério das Finanças, José Ramos-Horta disse que as conclusões »são uma causa de preocupação«.

«Partindo do princípio de que concordo com a metodologia (tenho algumas questões) e com a exactidão, mesmo assim favoreço as conclusões do estudo mais detalhado do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)», sobre índices de desenvolvimento humano, afirmou José Ramos-Horta.

O Presidente da República salientou também que o relatório é balizado por dois períodos críticos, um o que sucedeu à saída da comunidade internacional «de um dia para o outro» em Maio de 2002, o segundo pela crise de 2006.

Gaurav Datt, da Unidade de Gestão da Redução de Pobreza no Sudeste Asiático do Banco Mundial, defendeu o relatório afirmando que o universo de inquéritos, o detalhe da informação e a análise resultaram num documento «tão bom como é possível obter em qualquer lado do mundo».

Gaurav Datt sublinhou, aliás, que nem ele nem o relatório têm uma posição de princípio contra os subsídios.

António Franco, o representante do Banco Mundial em Timor-Leste, referiu os «dados de qualidade» do relatório apresentado hoje, resultado de um trabalho da Direcção Nacional e Estatística timorense.

«É um excelente exercício que aplica critérios muito rigorosos«, disse também António Franco.

in Diário Digital / Lusa daqui, daqui, daqui e daqui

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