As sirenes dos bombeiros ouviram-se ininterruptas nesses 3 minutos... parámos por Timor-Leste como nunca parámos por mais nada... TODOS
Rossio
a dignidade com que se estava
Não esquecerei estas duas pessoas. O homem da Carris disse: "ai vão parar vão, sim senhor, todos... eu sou da Carris e sei..." e agarrou-se com determinação à bandeira que mais tarde, junto à Embaixada dos EUA criou celeuma para uma certa esquerda que se "esqueceu" ou fez-se esquecida e aproveitar o momento para ter mostrado aos restantes membros permanentes da ONU, dos quais faziam parte e fazem, a China e a Russia, pessoas que se fartaram de mandar piropos. Remata o homem da Carris: "vamos lá!" e fomos. O autocarro da Carris que se aproximava vindo da Av. da Liberdade já não avançou... eram 15h00... o jovem na imagem aproximou-se e pediu-me quase sussurrando: "... posso pegar nessa bandeira?", permitiu-me assim tirar estas imagens... obrigado a ambos...
Esta imagem coloco-a aqui pois é especial, a razão não vem ao caso agora mas tem a ver com a comitiva onde se "extraviou" uma caixa de fotografias, já em 2000. Há sempre uns espertos ou quiçá, uma esperta... Sempre achei interessante a alguém que "rouba fotografias", admito sempre que terá uma especial predilecção pela arte... É só para lembrar... para não esquecer... eu não esqueço.
Cerca das 16h20
Durante toda a tarde do cimo daquele prédio foram lançados constantemente papeis e papelinhos, rolos de papel higiénico, tudo o que vinha à mão era material para protesto. No final da tarde percebe-se que esse stock acabou pois eram as páginas amarelas que fluíam nessa altura... aquele ventinho sempre a ajudar e a depositar os protestos em plena embaixada dos EUA, nas árvores, no seu jardim e envolventes. No topo do prédio viam-se gente de gravata e camisa, a causa era a mesma...
Às 16h25 ...
... ACREDITAVA-SE ... 
Quando cheguei junto da embaixada, pelas 15h45 estava um punhado de gente junto a um 4x4, pareceu-me o ponto polarizador. Nesse momento a descer a rua uma equipa da TVI. A bandeira tinha-a enrodilhada debaixo do braço mas percebia-se claramente o que era e a pergunta surgiu: "É para arder quando?", respondi que não era para arder... Timorenses jovens e alguns de idade junto ao veículo mais acima, foi aí que parei. A conversa foi imediata. Embora com pouca gente no local áquela hora, o ambiente era já de estarrecer. Feitas as apresentações perguntei se havia algo organizado para aquele local. Sim, havia, vinha aí o Cordão Humano por Timor que estaria a ligar as 5 embaixadas dos membros permanentes da ONU em Lisboa ao final da tarde. Então expliquei que trazia aquela bandeira e que a ideia era que ela ficasse de frente para as câmeras de segurança da embaixada o máximo tempo possível. Num salto, um jovem timorense, com os olhos vidrados de lágrimas que certamente lhe tinham saído como se de água se tratasse, agarra-se convulsivamente à bandeira que tenho na mão. Só o consegui abraçar e foi assim que ficámos largos minutos. Ele queria queimá-la ali e agora mas sussurrei-lhe que fazê-lo naquele momento não passaria mensagem nenhuma e não era mais que um mero acto de destruição. Falou-me da morte de familiares, de amigos, de conhecidos. Ele foi-se recompondo, eu também e anuiu. Mais tarde, revezando-se, ele é um dos que vai segurar a bandeira. Hoje não me recordo do seu nome mas sei que um dia ele vai aparecer.
A imagem seguinte encontrei-a faz muito tempo na net, mas não consigo localizar exactamente a sua origem, quem a fez... se alguém ajudar chegamos lá.
imagem in Jornal de Notícias (DR)Pelas 18h00, quando saía da embaixada uma comitiva de alguns nomes sonantes, uma senhora muito idosa "imaculadamente vestida de branco" com uma cruz e um outro jovem timorense agarrado às grades da embaixada que já tinha antes saltado, com o comando da polícia sem agressividade alguma a tentar demovê-lo a sair da posição que não largava e eram essas as atenções da caixinha mágica viradas a esses eventos... surgiu o momento em que se pegou fogo à bandeira norte-americana... às 18h00 em ponto. Sei que as câmeras de filmar que registaram o acto de protesto foram as da embaixada... era exactamente esse o objectivo. O momento foi aquele. Não sinto orgulho em queimar bandeiras, era um acto de protesto pela responsabilidade que aquele país tinha nas atrocidades e nada faziam perante o que se estava a passar em Timor-Leste. O HELP era ao fim e ao cabo o grito... e ainda bem que se gritou. Poucos dias depois, Clinton abriu a boca no sentido que interessava ao Povo Timorense. Valeu a pena sim! Não vi na mão de ninguém nenhuma outra bandeira de qualquer dos outros membros permanentes da ONU... porque terá sido?
Quando tive de sair do local, a visão que ficou para trás foi esta. Não queria ir embora mas tinha que ser. Estavam a chegar ao local milhares de pessoas do Cordão Humano por Timor! As vigílias à noite continuaram a exemplo de outros dias. Regressei à minha terrinha.

Esta é a minha homenagem ao dia 8 de Setembro de 1999 e sobretudo ao Povo Timorense!
nota: fotografias a preto e branco são de antónio josé e-mail. antoniojmm@gmail.com ... pede-se para não "cortarem" ou reenquadrarem... podem usar para fins não comerciais citando a fonte, outras alternativas, contacte.
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