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Discurso de Kay Rala Xanana Gusmão (pt) no Palácio Lahane, Díli

>> 20081213

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE TIMOR-LESTE

GABINETE DO PRIMEIRO-MINISTRO

ALOCUÇÃO

DE SUA EXCELÊNCIA O PRIMEIRO-MINISTRO,

MINISTRO DA DEFESA E SEGURANÇA

KAY RALA XANANA GUSMÃO

POR OCASIÃO DA SESSÃO DE ENCERRAMENTO DO

SEMINÁRIO "REFORMA E DESENVOLVIMENTO DO SECTOR DA SEGURANÇA EM TIMOR-LESTE"

12 de Dezembro de 2008

Palácio Lahane, Díli

Suas Excelências Senhor Presidente da República

Sua Excelência Senhor vice-presidente do Parlamento Nacional

Sua Excelência Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas

Sua Excelência Comandante Interino da PNTL

Suas Excelências Representantes do Corpo Diplomático

Suas Excelências Representantes das Organizações Internacionais

Representantes da Sociedade Civil

Senhoras e Senhores,

Em primeiro lugar não posso deixar de congratular a excelente organização deste Seminário e o especial empenho de Sua Excelência o Presidente da República e do seu Grupo da Reforma e desenvolvimento do Sector da Defesa e Segurança, contando também com o apoio do PNUD, que tornaram possível esta reflexão inédita no nosso País.

Apesar de não me ter possível participar, como desejaria, neste dois dias de trabalho intenso e proveitoso, sei que as mais variadas contribuições aqui deixadas, pelas várias forças da nossa sociedade, foram extremamente importantes para a continuação deste processo prioritário para o País, fazendo ainda uma especial referência àqueles que vieram de longe para também darem a sua contribuição neste projecto nacional.

Senhoras e Senhores,

Reformar o Sector da Segurança é, sem a menor dúvida, uma necessidade crucial para o Estado timorense e um desafio extremamente exigente!

Reformar, é um processo sempre ser mais difícil do que construir de novo.

Porque já há hábitos, práticas e percepções instaladas e, naturalmente, porque é mais fácil acomodarmo-nos a uma situação que já nos é conhecida, mesmo que imperfeita, do que termos a coragem de transformar e de reparar, aquilo que exige mudança.

Infelizmente, os desafios colocados à jovem democracia de Timor-Leste que, de dois em dois anos, assistiu a retrocessos e a situações de conflito, culminando nos atentados a 11 de Fevereiro deste ano, demonstraram a fragilidade do nosso Sector de Defesa e de Segurança e, ainda a tempo e não tarde demais, todos os Órgãos de Soberania, todas as Instituições, todos os representantes da Sociedade Civil timorense, reconheceram a necessidade de rever as nossas políticas nacionais e a necessidade de mudança. Por mais empenhado que o Governo esteja nesta missão de reforma, esta não é uma tarefa que o Governo possa e deva, desempenhar sozinho.

Pois bem, o Governo não está sozinho. Antes pelo contrário, este mote de Reforma do Sector de Segurança já acrescentou mais um capítulo à nossa História recente: o empenho, o envolvimento, a solidariedade, a participação e a cooperação institucional de todos os órgãos nacionais - Presidência, Parlamento Nacional, Governo, Forças de Defesa, Forças de Segurança, Organizações não Governamentais - que temos vindo a testemunhar neste processo e que são por si só já a Reforma!

Senhoras e Senhores,

Gostaria de comentar, ou reforçar, alguns dos aspectos já aqui referidos, nomeadamente pelo Senhor Presidente da República.

1. A nossa Nação Independente celebrou 6 anos em Maio deste ano, é evidentemente jovem e, por consequência frágil, mas isto não é de todo sinónimo de ser, ou vir a ser, um Estado falhado, e a prova disso são as reflexões e conclusões resultantes deste Seminário;

2. A nossa independência foi conquistada num contexto que apresenta grandes riscos para a estabilidade nacional; refiro-me às consequências deixadas pela guerra contra a ocupação indonésia, mas também à caracterização económica do País: baixos rendimentos, lento crescimento económico e extrema dependência da exportação de bens essenciais;

3. Já referi, em uma ocasião, que um estudioso dedicado a temas desta natureza, comparou esta situação a um jogo de "roleta russa", ou seja, a probabilidade de um País com estas características entrar numa guerra civil num período de cinco anos, é de uma em seis - o mesmo risco que assume um jogador na "roleta russa"!

4. Estas são fragilidades para as quais temos que estar atentos e que têm que ser encaradas como desafios e não com pessimismos derrotistas. O nosso passado, as nossas características culturais, o nosso processo de transição, os tempos necessários para permitir a sustentabilidade de qualquer projecto, as próprias experiências de outros países, têm que ser ponderados e, daí, a importância que tem vindo a ser dado ao sector da segurança e à consolidação da estabilidade.

5. Finalmente, em democracia os vários sectores de desenvolvimento não são estanques. Timor-Leste tem obviamente um legado de pobreza. E se a pobreza, o desemprego, a fome e a injustiça social levam à insatisfação geral da população, esta, naturalmente, põe em causa a segurança e a estabilidade nacional. Assim, os processos estão demasiado integrados e talvez seja esta uma das principais ameaças internas com que nos confrontamos, o principal factor de desestabilização interna.

6. Desta forma, o desenvolvimento estratégico do sector de Segurança, dotando os seus agentes de uma eficiente e eficaz actuação, vai permitir às populações gozarem de uma paz, tranquilidade e confiança, fundamentais para o desenvolvimento das actividades necessárias para o crescimento económico, social e político do País.

7. Os países com mais dificuldades, os sub-desenvolvidos, têm que obrigatoriamente "equipar-se" de condições para combater os problemas multidimensionais de segurança dos dias de hoje, têm que se proteger, precisamente porque são mais vulneráveis às crises e mais devastados pelos seus impactos. A Segurança e o Desenvolvimento económico estão, assim, intimamente interligados e investir na Segurança, é investir no Futuro!

Senhor Presidente da República

Senhoras e Senhores,

Foi aqui referido que este investimento é extremamente dispendioso. Sabemos disso, assim como também sabemos das nossas naturais limitações orçamentais, assim como sabemos ainda que o apoio multilateral e bilateral, dos países amigos e doadores, tem vindo a ser precioso.

Porém, e mais uma vez, não imunes à experiência internacional, temos vindo a aprender que só existe um meio para que esta Reforma seja bem-sucedida: encontrar o modelo certo para Timor-Leste, respeitando os passos e os tempos necessários à nossa realidade. E este modelo é o modelo resultante do consenso timorense, implementado sob a liderança timorense.

Foi neste sentido que foi criado o Grupo para a Reforma e Desenvolvimento, no âmbito da Presidência da República, envolvendo os vários órgãos da sociedade, e foi neste sentido que se tem vindo a realizar um trabalho exaustivo de estudos, de planeamento, de reformas legislativas, de melhoria de infraestruturas, equipamentos e meios logísticos, e de melhoria de recursos humanos – quer no sector da Defesa, quer no Sector da Segurança.

Senhoras e senhores,

Outro aspecto abordado durante este Seminário é que hoje, as ameaças externas e internas que um Estado enfrenta confundem-se e torna-se complexo definir com clareza se a uma determinada ameaça devem ser equacionados os mecanismos previstos na Defesa Nacional ou, pelo contrário, se estamos perante um caso exclusivamente do âmbito da Segurança Interna.

Por outro lado, no mundo globalizado de hoje, os interesses expansionistas dos Estados utilizam recursos mais refinados, como acções perpetradas no interior das próprias fronteiras do País que se pretende dominar, sendo um exemplo disto o método utilizado pelas organizações terroristas que, em diversos pontos do Globo, apostam no derrube dos Governos constitucionalmente legítimos, tentando minar as instituições internas, de forma a enfraquecer o Estado, tornando-o, assim, vulnerável aos seus propósitos.

As ameaças à estabilidade interna no mundo global de hoje são partilhadas com preocupação a nível internacional. As acções subversivas contra a identidade e coesão nacional, a criminalidade organizada como é o tráfico de droga, de pessoas, armas e contrabando, têm que ser abordados de uma forma integrada.

Um combate efectivo contra estas novas ameaças implica, necessariamente, uma conjugação de esforços entre as forças responsáveis pelo garante da defesa nacional e aquelas que estão incumbidas de acautelar a segurança interna.

Assim sendo, é hoje um imperativo para os Estados criarem mecanismos de cooperação e coordenação entre as forças de defesa e as de segurança, devendo ambas estarem aptas a desenvolver missões de natureza habitualmente reservadas à outra.

Não se pretende, naturalmente, que os militares comecem a desencadear operações policiais, substituindo-se, dessa forma, às forças de segurança, mas antes que estejam preparados para apoiarem estas em determinadas missões específicas, princípio que, de igual modo, se deve aplicar aos elementos das forças policiais, no apoio às missões tipicamente militares.

Foi procurando responder a esta nova realidade, às ameaças não convencionais, e às próprias circunstâncias e história das Forças Armadas e da Polícia do nosso País, que este Governo tomou a decisão, certamente inovadora na região do mundo em que nos inserimos, de concentrar num único Ministério as áreas da Defesa Nacional e da Segurança Interna.

Foi principalmente com este propósito, e também para permitir que ambas as Instituições consolidassem as suas relações e desenvolvessem a sua actividade em estreita cooperação na prossecução de um objectivo comum. O sucesso obtido com a criação do Comando-Conjunto é um exemplo prático deste pressuposto.

Encaramos a Segurança Nacional num conceito mais alargado que, além da defesa nacional e da segurança interna, engloba também outras componentes, como a protecção civil e a política externa, garantindo a cooperação e a solidariedade entre as forças, como forma de garantir a estabilidade, a unidade e a segurança das populações, contra qualquer tipo de ameaças e riscos.

Os primeiros passos já foram dados, já conseguimos a coordenação essencial a nível político, quer com as F-FDTL quer com a PNTL e temos vindo a produzir documentos estruturantes para que estas Instituições se consolidem e desenvolvam.

Senhoras e Senhores,

Todas as palavras certas foram ditas durante estes dois dias. Agora, temos que demonstrar as acções certas. Devemos isto a nós mesmos mas também à Comunidade Internacional, enquanto Estado membro da Comunidade das Nações – que nós, Estado e população timorense, somos capazes de ter instituições militares e policiais eficazes e eficientes.

Uma das formas de demonstrar isto é provando que a PNTL é uma instituição capaz de vingar sem estar sobre a direcção das Nações Unidas. Eu confio na PNTL. Sei que muitos agentes sentem que já estão prontos, agora temos que ser capazes de o demonstrar e recordar sempre as difíceis lições do passado.

O ano de 2009 será crucial neste sentido. O Secretário de Estado da Segurança está a terminar a negociação de um plano com a UNMIT, para a concretização deste objectivo, em que a PNTL assume já os seus plenos direitos no próximo ano. Isto não significa que a PNTL vai assumir só os seus direitos mas também os seus deveres e responsabilidades. A PNTL tem que demonstrar forte disciplina, administração e capacidade operacional e ultrapassar irreversivelmente as marcas do passado.

Por outro lado, 2009 será o ano em que efectivamente a Força 2020 começará a ser implementada. Não esperamos menos do que coerência e articulação perfeita entre os elementos das Forças Armadas, para permitir a necessária reestruturação, reorganização e profissionalização das F-FDTL.

Uma política de defesa não se improvisa, tem que ser coerente e devidamente preparada, não se fazendo de um dia para o outro. Neste processo de reestruturação estão obviamente incluídos os veteranos e o seu processo de desmobilização.

A estes que tão pacientemente esperaram, entregando o seu sacrifício pessoal, para ver concretizado o sonho de todo um Povo. A estes que tão resignadamente esperaram para verem reconhecidos os seus mais elementares direitos, enquanto Heróis da Libertação Nacional, peço que continuem a participar neste processo de reforma com importantes contribuições.

Assegurando que o Governo tem consciência que o processo de reforma estaria amputado à partida, se não contemplasse no futuro Estatuto da Condição Militar os direitos e deveres de todos os militares e naturalmente dos veteranos.

Senhoras e senhores,

Muito havia ainda a dizer mas compreendo que por esta altura estão todos bastante cansados e por isso não me quero alongar mais.

Aos conferencistas internacionais e participantes que atravessaram continentes e oceanos para aqui estarem hoje a partilhar connosco as vossas sábias experiências e melhores práticas, um muito obrigado.

Aos nossos amigos internacionais em Timor-Leste, reitero também o meu agradecimento e a confiança e apoio que sempre têm demonstrado no nosso País, consubstanciadas em renovadas parcerias.

A nós timorenses, aqui presentes, a forma mais digna e valiosa de retribuir esta confiança, é fazer com que esta Reforma não se resuma a meros conjuntos de boas intenções, consubstanciadas em palavras, mas sim num sucesso colectivo dos timorenses – homens e mulheres – que num espírito de cooperação e unidade irão garantir um futuro promissor a Timor-Leste.

Muito obrigado!

Kay Rala Xanana Gusmão

12 de Dezembro de 2008

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O discurso de Kay Rala Xanana Gusmão em Bali (ENGLISH, TETUN, PORTUGUÊS)

>> 20081211

Imagem: AFP/Getty Images

Legenda: Indonesian President Susilo Bambang Yudhoyono (R) hits the gong to mark the opening of the Bali Democracy Forum in Nusa Dua, on the resort island of Bali on December 10, 2008 as East Timorese Prime Minister Xanana Gusmao (L), Australia Prime Minister Kevin Rudd (2nd L) and Sultan of Brunei Hassanal Bolkiah (2nd R) witness the ceremony.


ADDRESS BY HIS EXCELLENCY

THE PRIME MINISTER OF THE
DEMOCRATIC REPUBLIC OF TIMOR-LESTE

KAY RALA XANANA GUSMÃO

AT THE INAUGURAL SESSION OF THE BALI DEMOCRACY FORUM

“Building and Consolidating Democracy: A strategic Agenda for Asia”

NUSA DUA, BALI
10-11 DECEMBER 2008






(Clique em cada imagem para ampliar)

VERSÃO EM TETUN

VERSÃO EM PORTUGUÊS

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE TIMOR-LESTE

GABINETE DO PRIMEIRO-MINISTRO

ALOCUÇÃO

DE SUA EXCELÊNCIA O PRIMEIRO-MINISTRO DA

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE TIMOR-LESTE

KAY RALA XANANA GUSMÃO

NA SESSÃO INAUGURAL DO FÓRUM SOBRE

DEMOCRACIA EM BALI

"Construindo e consolidando a Democracia: Uma Agenda estratégica para a Ásia"

NUSA DUA, BALI

10-11 DE DEZEMBRO DE 2008

Sua Excelência Presidente da República da Indonésia,

Sua Excelência Ministro dos Negócios Estrangeiros da Indonésia,

Suas Excelências Chefes de Estado e de Governo,

Distintos Membros das Delegações,

Senhoras e Senhores,

Permitam-me, em primeiro lugar, agradecer ao Governo da Indonésia e principalmente ao nosso anfitrião, Sua Excelência Dr. Susilo Bambang Yudhoyono, a calorosa hospitalidade e a excelente organização deste fórum.

Aproveito ainda a oportunidade para salientar a minha profunda satisfação por participar nesta importante iniciativa. Este Fórum sobre Democracia é, neste momento, mais do que oportuno para a região asiática onde nos inserimos, é também uma oportunidade estratégica face à nova conjuntura internacional.

O mundo globalizado de hoje esbate as fronteiras individuais e regionais e transforma problemas internos em problemas comuns a todos os países. Vivemos actualmente

uma situação de ameaça multi-dimensional, na sequência da crise económica e financeira, alimentar e energética, mas também decorrente das alterações climáticas, cujos impactos para os países mais pobres e vulneráveis, como é o caso de Timor-Leste, são ainda imprevisíveis.

Por outro lado, o terrorismo tornou-se um flagelo contra os valores do Estado de direito, da democracia e da liberdade, basilares nas nossas sociedades e afectando toda

a ordem internacional.

Um exemplo recente foram os terríveis ataques perpetrados em Mumbai, que reivindicam de todos nós mais do que simples expressões de solidariedade e de condolências às famílias das vítimas, ao Governo e ao Povo da Índia.

É também indispensável que este inimigo inesperado receba forte condenação e que seja criada uma plataforma comum de cooperação regional e internacional, para a protecção de vítimas inocentes.

Este acto terrorista representa um ataque à maior democracia do mundo e demonstra o quanto este sistema, histórico e fundamentado nos mais nobres ideais da humanidade, pode ser vulnerável à arrogância dos homens.

O continente asiático, incluindo Timor-Leste, tem vindo a ser palco de recentes disputas internas, resultantes de cisões tanto étnicas como religiosas, ou originadas por razões políticas, militares, sociais e culturais, demonstrando o quão frágil podem ser os Estados, quando neles persistem sentimentos anti-democráticos; quando os homens defendem interesses individuais em detrimento dos interesses colectivos de um Povo.

O combate ao terrorismo e às disputas internas, que devastam as aspirações democráticas e deterioram as condições económicas, sociais e humanitárias, assim como a arquitectura da segurança regional, além de ser um imperativo moral é uma condição essencial ao desenvolvimento.

Senhoras e Senhores,

Timor-Leste, a mais jovem democracia e um dos países mais pobres do sudeste asiático, não pode isolar-se dos seus parceiros regionais, procurando fortes parcerias para ultrapassar os desafios do nosso tempo, os desafios do mundo globalizado.

O povo de Timor-Leste conquistou o seu lugar na história da democracia, através da sua abnegada luta pela soberania e independência nacional, baseada na vontade popular e no respeito pela dignidade da pessoa humana.

O ano passado, voltou a dar provas da sua consciencialização democrática colectiva quando, nos mais improváveis dos contextos – após uma crise que abalou profundamente as Instituições e provocou graves prejuízos humanos e materiais – o Povo apresentou a sua vontade nas urnas e elegeu, primeiro, o Presidente da República e, depois, os seus representantes no Parlamento Nacional.

No entanto, consolidar uma Democracia não é uma tarefa fácil. Não basta denominarmo-nos República Democrática de Timor-Leste, ter partidos políticos e promover eleições livres e frequentes; temos que trabalhar arduamente para dar significado e efeito prático a este ideal, para que se materialize nas nossas Instituições e nas vivências do nosso Povo.

O verdadeiro desafio ainda só agora começou. A liberdade, em democracia, tem um significado mais amplo do que agir sem opressão. O processo de libertar o povo da pobreza, da fome, da doença e da ignorância, é um processo moroso e que não se resume à instituição de normas reguladoras de direitos e deveres individuais e colectivos.

O Povo timorense confiou na democracia e espera agora que esta seja também sinónimo de bom governo, de progresso económico e de justiça em geral – o que é bem mais do que apenas a igualdade de direitos políticos. Timor-Leste reclama um Estado forte, com instituições políticas democráticas e estáveis, com condições para unir os timorenses e colmatar a pluralidade dos seus interesses.

Adoptámos como prioridades imediatas a consolidação da segurança e estabilidade nacional, a par de medidas de justiça social para os mais pobres e vulneráveis, e inadiáveis reformas da gestão do Estado.

Temos vindo a acompanhar a Reforma do Sector Público na Indonésia e também o meu Governo está determinado em criar uma função pública eficiente, independente e livre de corrupção, contando com a colaboração de todos os Órgãos de Soberania –

para que a transformação do sector público conduza a uma governação de transparência, responsabilização e eficiência na gestão das finanças públicas e na prestação de serviços essenciais às comunidades.

Assegurada a Paz nacional e implementados novos sistemas administrativos, financeiros, legais e institucionais, estamos agora em condições de iniciar a nossa política de crescimento económico.

Timor-Leste é um país abençoado por recursos naturais que, usados de forma sábia e sensata, permitirão resgatar os timorenses da pobreza. Para cumprir este desígnio, a nossa agenda estratégica de médio prazo prevê:

• O desenvolvimento das infra-estruturas nacionais;

• O desenvolvimento do capital humano; e

• O desenvolvimento agrícola e rural.

Esta política de crescimento económico irá permitir a criação de emprego, o aumento dos rendimentos, reduzir a dependência externa de bens essenciais e, claro, melhorar gradualmente a melhoria das condições de vida da população.

Estes são factores determinantes para suportar o fortalecimento do sistema democrático. Sabemos que sem paz e estabilidade social e económica – sem colmatar as necessidades e atribuir satisfação social ao nosso Povo - torna-se difícil a consolidação dos valores e princípios democráticos.

Excelências,

Senhoras e Senhores,

Esta não é uma agenda, política e económica, particular a Timor-Leste, mas uma agenda estratégica que se pretende para todos os países da Ásia.

6

O reforço da qualidade das democracias constitui o reforço dos Estados. Exige por isso, o empenho e o espírito de colaboração institucional de todos os Órgãos de Soberania Nacionais e a participação activa de toda a Sociedade Civil, nas decisões que afectam os cidadãos em geral.

Os desafios colocados à jovem democracia de Timor-Leste que, de dois em dois anos, assistiu a retrocessos e a situações de conflito, culminando nos atentados ao Chefe de Estado e ao Chefe do Governo, a 11 de Fevereiro deste ano, demonstram a fragilidade do processo de consolidação democrática e obrigaram-nos a rever as nossas políticas nacionais.

Esta fragilidade não é exclusiva ao meu País, a experiência de outros Estados asiáticos também mostram que a democracia pode ser facilmente subjugada a actos de violência e repressão. Temos, como Nações solidárias, que reforçar os mecanismos de diálogo e suporte recíprocos para com sucesso percorrer o caminho de construção e consolidação da Democracia na Ásia.

Representamos aqui diferentes culturas, diferentes opções políticas, diferentes estádios de desenvolvimento económico e social. No entanto, esta diversidade tornase numa excelente oportunidade para retirar lições, para partilhar melhores práticas e, sobretudo, para explorar abordagens e ultrapassar desafios comuns, sustentados nos princípios e valores democráticos.

Não podemos pedir fórmulas emprestadas de sucesso para serem copiadas de uns países para os outros, mas podemos criar parcerias inovadoras de cooperação regional, aprendendo com as nossas diversas experiências e assumindo com responsabilidade o compromisso de desenvolvimento regional.

A democracia é, em primeira instância, uma questão de responsabilidade!

7

Precisamos de novas alianças regionais baseadas em responsabilidades partilhadas e duradouras e assumimos desde já o compromisso de contribuir para este objectivo.

Colocar a democracia na ordem do dia e promover o diálogo conducente a novas parcerias e mecanismos de cooperação, é acreditar que o destino da humanidade é alcançar a paz e o desenvolvimento sustentável.

Finalmente, não posso deixar de expressar uma última palavra de apreciação para o nosso vizinho asiático mais próximo, a Indonésia, que é um exemplo notável de um processo de transição de uma governação autocrática para uma democracia pluralista e uma sociedade aberta e tolerante.

A visão democrática e a liderança do seu Presidente da República, permitiram ao povo indonésio usufruir de um clima de paz, liberdade e desenvolvimento, promovendo a "unidade na diversidade". Não é por acaso que este fórum se realiza aqui e também não é por acaso que Timor-Leste aceitou imediatamente participar neste encontro, que visa impulsionar uma verdadeira cultura democrática na nossa região.

Este é o espírito das jovens democracias e o nosso destino comum.

Muito obrigado!

Kay Rala Xanana Gusmão

10 de Dezembro de 2008

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