artigo com origem no Forum Haksesuk, editado a 13 de Novembro de 2008"Neste ano de 2008 ocorre o décimo sétimo aniversário do massacre de Santa Cruz. Foi um acontecimento triste para os Timorenses, especialmente para as famílias daqueles valorosos jovens e adolescentes que morreram inocentemente, só por quererem exigir o direito à liberdade e à preservação da sua identidade timorense.Antecedentes
No dia 24 de Abril de 1974, deu-se em Portugal o chamado “Movimento das Forças Armadas (MFA), que derrubou o Estado Novo e restaurou o regime democrático. A chamada “Revolução dos Cravos” proporcionou reformas domésticas em Portugal e catalisou os movimentos de independência que despontavam nas então Províncias Ultramarinas.
Em Timor Português, embora tivesse havido nos séculos anteriores muitas rebeliões contra a Coroa Portuguesa, não havia até ali, movimentos ou partido políticos. Os eventos na Metrópole fizeram surgir as primeiras organizações políticas na história de Timor.
O primeiro grupo a organizar-se foi a União Democrática Timorenses, ou a UDT, fundada a 11 de Maio de 1974. Entre os membros fundadores, registam-se os nomes de Francisco Lopes da Cruz, César Augusto da Costa Mouzinho, os Irmãos Carrascalão (Manuel, João e Mário), Domingos de Oliveira, etc. A UDT tinha como objectivos a continuada associação com Portugal, e uma eventual independência a longo prazo.
Em 20 de Maio de 1974, é fundada em Díli a Associação Democrática Timorense (ASDT); os membros fundadores, Francisco Xavier do Amaral, José Manuel Ramos Horta, Mari Alkatiri, entre outros. O primeiro manifesto da ASDT reclamava a rejeição do colonialismo, a imediata participação dos timorenses na administração e governos locais, a luta contra a corrupção e um bom relacionamento com os países vizinhos. A 9 de Setembro de 1974, com a chegada da Metrópole de alguns estudantes universitários (Abílio Araújo, António Carvarino, Hamis Bassarewa, Vicente Reis, Roque Rodrigues, César Maulaka), a ASDT transforma-se em Frente Revolucionária de Timor Leste Independente, FRETILIN, caracterizando-se por um forte nacionalismo e anticolonialismo.
A 27 de Maio de 1974, é fundada a Associação Popular Democrática Timorense, APODETI. Os seus membros provinham daqueles Timorenses descontentes com o Governo Português, daqueles que tinham estado implicados na revolta de 1959, em Viqueque, Watocarbau e Watolari, e alguns membros da comunidade árabe, de Díli, os quais tinham solicitado a integração ao cônsul da Indonésia. Integravam a nova associação, Arnaldo dos Reis Araújo, Guilherme Gonçalves, José Fernando Osório Soares, Abel Belo, etc. A Apodeti declarava desde o início que um Timor independente não seria economicamente viável a não ser que fora apoiado pelos seus irmãos étnicos na Indonésia. O Mentor do ideário da Apodeti, foi major português Arnao Metelo, delegado do MFA, em Timor.
Mais tarde surgiram três pequenos partidos: O Klibur Oan Timor Assuwai, ou KOTA, formado por alguns liurais; O Partido Trabalhista, liderado por José Martins e Adilta ( Associação Democrática para a Integração de Timor com a Austrália).
A posição do Governo de Lisboa foi transmitida em Junho de 1974 pelo então Governador Fernando Alves Aldeia, sob a forma de três opções: primeira, manutenção da associação com Portugal; segunda, independência, e terceira, integração na Indonésia. Em Novembro de 1974, chega a Timor o novo governador Mário Lemos Pires, acompanhados por oficiais do MFA, ente os quais se destacavam pela sua posição esquerdista os majores Francisco Mota e Costa Jónatas. A nova equipa estabelece em Dezembro de 1974 um conselho governativo com o propósito de chamar todos os partidos ao processo político de descolonização. A 25 de Janeiro de 1975, a UDT e a Fretilin tinham formado uma coligação para impedir a integração de Timor na Indonésia. Do ideário dessa coligação destaca-se: “Reconhecimento formal da independência de jure de Timor Díli ou Timor Leste do Governo Português com eliminação da Apodeti; Rejeição da integração de Timor Díli ou Timor este em qualquer potência estrangeira, nomeadamente Indonésia. Reconhecimento do Governo Português como único interlocutor válido no processo da descolonização”. A coligação que suscitou em dado momento esperanças para a maioria do Povo Timorense, não teve vida longa. Por causa de violência física e verbal praticada pelos partidários da Fretilin contra membros da UDT e, por divergência ideológica, a UDT decide romper com a coligação em Maio do mesmo ano. Os serviços secretos da indonésia trabalhavam em força para aliciar alguns membros da UDT para começarem a defender a tese da integração. O Governo Português tenta controlar a situação interna com a convocação de uma cimeira em Macau, à qual a Fretilin não participou.
No dia 11 de Agosto de 1975, a UDT, denominando-se Movimento Anti-comunista (MAC) desencadeia um golpe de Estado, com o fito de ser o único interlocutor junto do Governo Português e neutralizar a Fretilin e expulsar os membros esquerdistas do MFA. Apresentou algumas exigências: 1. Que o Governo tomasse medidas firmes e urgentes para expulsar de Timor todos os comunistas; 2. Que fossem expurgados da Fretilin todos os seus elementos comunistas; 3. Que o governador Lemos Pires continuasse a exercer as suas funções, etc.
A Fretilin apoiado pelos sargentos e praças timorenses, simaptizantes da Fretilin, inicia o contra-golpe e começa pouco a pouco conquistar os bairros de Díli e com grande facilidade ocupam pontos estratégicos da cidade Díli. Os líderes da UDT, abandonam o quartel-general em Palapaço procura refúgio na fronteira. Os líderes da Apodeti, Kota e do partido Trabalhista não resistem ao avanço das forças da Fretilin e dirigem-se também para a fronteira.
No dia 27 de Agosto, o Governador Mário Lemos Pires e toda a sua equipa abandona Díli e retira-se para a Ilha de Ataúro. Nos meses de Setembro e Outubro, a Fretilin já controlava todo o território. Mas, por outro lado, as forças indonésias estavam a preparar infiltrações esporádicas na fronteira. No dia 17 de Agosto de 1975, os Indonésios emitem a partir de Kupang campanhas difamatórias contra os lideres da UDT e da Fretilin na chamada Rádio Ramelau, montada pelos serviços secretos indonésios.. Depois da tomada de Batugadé pela Fretilin, os indonésios organizam forças voluntarias (Pasukan Sukarelawan), sob o comando do Coronel Dadin Kalbuadi para e invadir Timor. Começa um período de conflitos entre as Falintil (da Fretilin) e os Voluntários (elementos das forças armadas indonésias) os Partisan (timorenses pró-integração). Foi nessa altura que se deu o assassinato dos cinco jornalistas em Balibó.
A 24 de Novembro de 1975, a Fretilin apelou ao Conselho da Segurança para intervir numa conjuntura em que o território enfrentava ataques de barcos de guerra, infantaria e aviões indonésios.
Nos finais de Novembro de 1975, deram-se as declarações unilaterais. Prevendo uma possível invasão da Indonésia, assistindo a inércia do ONU e a falha a do Governo de Lisboa em resolver o problema da descolonizaçã o Comité Central da Fretilin toma decisão de proclamar unilateralmente a independência no dia 28 de Novembro de 1975. A cerimónia celebrou-se em frente do Palácio do Governo. A bandeira de Timor-Leste substituiu a de Portugal. Ficou como 1º presidente Francisco Xavier do Amaral, e primeiro ministro, Nicoalu Lobato. No dia 30 do mesmo mês os partidos pró-integração, Apodeti, UDT e Kota e o Pátio Trabalhista, proclamaram em Integração de Timor na Indonésia. Baseando-se nesta declaração de Timorenses pró-integração, a Indonésia depois da visita do Presidente norte-americano Gerald Ford e do secretário do Estado Henry Kissinger, invadir Timor Leste. Na madrugada do 7 de Dezembro, a ABRI (Angkatan Bersenjata Rebublik Indonésia) iniciava a espectacular invasão de Díli, dano execução a um dos pontos principais da conhecida “Operasi Komodo” gizada pelo general Ali Murtopo e executada, na parte militar, pelo major-general Benny Moerdani. A esta parte da operação davam os Indonésios o nome de “Operasi Seroja” (Lotus em flor). Os barcos indonésios bombardearam duramente os objectivos militares, os pára-quedistas foram lançados sobre a cidade de Díli. Os fuzileiros navais e infantaria desembarcaram em massa e as forças especiais procuraram ocupar os lugares estratégicos. As forças armadas da Fretilin abandonam a cidade de Díli e recuam para as montanhas a sul de Díli, iniciando a guerrilha.
Portugal apresentou queixa ao Conselho da Segurança da ONU e, cortou unilateralmente as suas relações diplomáticas com a Indonésia.
Em 17 de Dezembro de 1975, O regime de Jakarta estabelece em Díli o governo provisório (Pemerintah Sementara Timor Timur) e uma assembleia provincial de deputados (Dewan Perwakilan Rayakt Tingkat Satu). Como 1º governador foram escolhidos Arnaldo dos Reis Amaral e vice-governador, Francisco Lopes da Cruz. Para presidente da Assembleia provincial escolheu-se Guilherme Gonçalves, régulo de Atsabe. Entretanto o governo da “República Democrática de Timor Leste”, já nas montanhas de Timor apelava para a intervenção de países amigos, sobretudo das antigas colónias portuguesas. Tornadas independentes, e para a ONU. No dia 12 de Dezembro de 1975, a Assembleia Geral da ONU aprovou por maioria a Resolução 3485, em que se definia o direito inalienável de Timor à autodeterminação e independência e lamentou a invasão militar do exército indonésio. Esta decisão foi confirmada depois pelo Resolução 384 do Conselho da Segurança, que apelava à Indonésia para retirar as suas tropas, e atribuía poderes de verificação ao Secretário-geral da ONU. Na primeira votação na Assembleia Geral das Nações Unidas, sobre a questão de Timor, apenas 12 dos seus membros votaram a favor da Indonésia e 79 contra. A Resolução de 1975 foi renovada todos os anos entre Dezembro de 1976 e Novembro de 1982, mas as votações foram sendo mais favoráveis à Indonésia. No ano de 1982, quando a Assembleia Geral das Nações Unidas inscreveu pela última vez a “Questão de Timor” para outra aprovação, os votos contra a Indonésia desceram para 50 e a seu favor subiram para 48.
Em 17 Maio de 1976, o Parlamento Nacional da república da Indonésia aprovou uma Lei Constitucional que integrou formalmente Timor Português na Indonésia, como uma das suas províncias com o nome de “ Propinsi Daerah Tingkat I Timor Timur”. De 1976 até 1979, o território estava totalmente vedado aos órgãos de informação. A maioria da população tinha procurado refúgio nas florestas e nas montanhas. As violentas campanhas de bombardeamentos obrigavam as pessoas a mudarem-se continuamente de um sítio para outro. No dia 28 de Dezembro de 1978, foi morto o segundo presidente da RDTL, Nicolau Lobato. Entretanto Xanana Gusmão conseguiu reorganizar a Resistência. Em 1981, os indonésios, desejando esmagar para sempre a Resistência inicia uma outra operação militar, no decurso do qual se deu o massacre mas montanhas de Santo António. Massacre esse que foi denunciado pelo Monsenhor Martinho da Costa Lopes, depois da procissão do dia 13 de Outubro de 1981.
Em 2 de Abril de 1982 , a Assembleia da República de Portugal criou uma Comissão Eventual de Acompanhamento da Situação em Timor Leste, mostrando assim que o governo sentia alguma responsabilidade pelo facto de em nada ter contribuído, até aí, para evitar o genocídio que o Povo de Timor estava a sofrer. Nesse mesmo ano, Perez de Cuellar propôs à Assembleia Geral retirar o caso da “Questão de Timor” da discussão na própria Assembleia e promover os contactos directos entre os representantes de Portugal e Indonésia. De facto, os representantes dos dois países encontraram-se em Nova Iorque em Julho de 1983, e desde então tentaram chegar a um acordo ‘honroso’. Entretanto, em Timor Leste, elementos da Abri e a Resistência iniciaram contactos para um “cessar fogo”. Assim, em Março de 1983, Xanana Gusmão encontrou-se m Buburake (Viqueque) com os Majores Stephanus Gatoto e William. Desse o primeiro encontro marcou-se outro encontro entre Xanana Gusmão e o Danrem Purwanto, para discutir o cessar-fogo. Esse encontro veio a realizar-se no dia 23 de Março. Uma semana depois, o Comandante Kai Rala Xanana volta a encontrar-se com o governador Eng. Mário Carrascalão. Em Jakarta as cúpulas militares não estavam de acordo com o cessar-fogo. Purwanto, foi mandado regressa sendo substituído pelo coronel Rudito.. Em Agosto de 1983, deu-se o grave incidente de Crarás. Novos batalhões indonésios são enviados para Timor.
Em 13 de Janeiro de 1988, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Indonésia tinha declarado que Timor Timur podia ser visitado por uma delegação de deputados portugueses, desde que eles fossem para observar, e não para investigar.
No dia 5 de Fevereiro recebo na minha residência de Lecidere um estudante timorense do SMA Negeri 1, Becora, que, chorando, me contava como os alunos timorenses foram naquela manhã maltratados pelos seus professores, naturais da ilha indonésia de Flores, dizendo que os timorenses eram ‘buta huruf, miskin e terbelekkan, analfabetos, pobres e atrasados’ e que se sabiam alguma coisa era por causa do dinheiro da Indonesia”. Na manhã do dia 6 de Fevereiro de 1989, tomei a decisão de escrever ao Secretário Geral das Nações Unidas, o peruano Perez de Cuellar: Era este o conteúdo da carta:
“Tomo a liberdade de escrever a Sua excelência o Senhor Secretário –Geral para levar ao seu conhecimento que o processo de descolonização de Timor Português ainda não está resolvido pelas Nações Unidas e convém não deixá-lo no esquecimento. Nós, o Povo de Timor, pensamos que temos de ser consultados sobre o destino da nossa terra. Por isso, como responsável pela Igreja Católica e como cidadão de Timor, venho por este meio pedir a Sua Excelência que inicie um processo genuíno e democrático de descolonização em Timor Oriental a ser realizado através de um referendo. O Povo de Timor tem de ser ouvido através de um plesbiscito quanto ao seu futuro. Até agora, o povo ainda não foi consultado. São os outros que falam em nome do Povo. É a Indonésia que diz que o Povo já escolheu a integração, mas o próprio povo de Timor nunca disse isso. Portugal quer deixar ao tempo a resolução do problema. E nós vamos morrendo como povo e como nação. Sua excelência é um democrata e um defensor do direitos humanos. Peço-lhe que demonstre por actos o respeito devido quanto ao espírito como á letra da carta das Nações Unidas, que concede a todos os povos o direito de decidir sobre o seu próprio destino, livre, consciente e responsavelmente. Excelência mão há maneira mais democrática de sondar o desejo supremo do povo timorense do que a realização de um Referendo promovido pelas nações Unidas para o Povo de Timor”.
Posso dizer que depois do envio dessa carta, ao longo de vários meses, tive grandes sofrimentos: da parte das autoridades indonésias e da parte dos meus superiores hierárquicos. Um chegou a dizer: “Tu és o único bispo católico a agir dessa forma”.
Em 12 de Outubro de 1989, o Papa João Paulo II visita Díli e reza a missa em Taci Tolu. Depois da missa deu-se a manifestação da juventude. Sua santide perguntou-me o que é que os jovens queriam. Disse-lhe: “Santidade, estes jovens estão a manifestar-se para mostrar ao Papa que eles estão a sofrer…”. O Santo Padre apenas olhou para os manifestantes e para as cadeiras lançadas contras o jovens e para a poeira que se levantava.
Sentindo-se iludidos e ultrapassados pelos acontecimentos e os militares sentindo-se feridos no seu orgulho, apressaram-se a acusar Igreja de ser a fautora da manifestação. O major Prabowwo, genro do Presidente Soeharto, e que não gostava nada do padre Locatelli acusou este salesiano italiano de ser o cérebro. De facto, naquela mesma tarde do dia 12, pelas 16 horas, hora de Jakarta e 18 horas, hora de Timor Timur, a Rádio Nacional da Indonésia, transmitia a noticia de que em Díli, durante a missa do Papa João II, tinha ocorrido uma manifestação contra o papa João Paulo II, e que manifestação fora organizada pelo padre Locatelli e pelo alunos do Colégio salesiano de Fatumaca. Quantos sofrimentos físicos e morais não passaram naqueles meses os alunos de Fatumaca e os jovens de Díli!
Em Janeiro de 1990 visitava Díli o Embaixador do Estados Unidos John Monjo. De novo 400 jovens aproveitaram a ocasião para se manifestarem para uma diante do Hotel Turismo.
Visita da Delegação dos Parlamentares Portugueses
A 9 de Maio de 1989, iniciam-se em nova Iorque, sob os auspícios das Nações Unidas, conversações sobre as condições a que deve obedecer a eventual visita dos deputados portugueses a Timor. Ali Altas, Ministro dos Negócios Estrangeiro da Indonésia, anuncia publicamente a aceitação da Indonésia, e o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal declara que se trata de uma visita de observação e não de apuramento de factos. Em 20 de Junho, representantes de Portugal e da Indonésia assinam um compromisso em Genebra. Em 20 de Maio de 1990, a Assembleia da República de Portugal aprova a visita, com “salvaguarda de regras internacionais e o direito dos povos à autodeterminação. Dois dias depois o Embaixador de Portugal entrega aos representantes da Indonésia na ONU uma declaração final. No da 25 de Junho os representantes de Portugal e da Indonésia chegam a acordo de princípios em Nova Iorque. Entretanto, em Junho de 1990, em Baucau, José da Costa, Mau Hudo, conselheiro político da CNRM, reuniu em Baucau, com líderes de movimentos clandestinos. Desse encontro resultou o estabelecimento em Díli do Comité Executivo da Frente Clandestina, e foram escolhidos como responsáveis, os jovens Constâncio Pinto, Donaciano Gomes José Manuel Fernandes. Foram estes que organizaram a manifestação no fim da missa do Papa em Tacitolu. A missão da Frente clandestina de Díli era preparar os jovens para uma possível grande manifestação durante a visita dos Deputados Portugueses. Em 5 de Agosto, a Indonésia aceita oficialmente os termos de referência apresentados por Portugal. No dia 13 de Setembro dá-se a assinatura de acordo entre Portugal e Indonésia. A 21 desse mesmo mês, a Indonésia aceita a isenção de vistos para os deputados e a liberdade total de movimento da delegação. Entretanto, a 21 de Outubro de 1990, a Indonésia veta o nome de três jornalistas que deveriam integrar a delegação portuguesa (Mário Robalo, Rui Araújo e Jill Joliffe). O presidente da República de Portugal, o Presidente da assembleia e o Primeiro-ministro exigem a aceitação de todos os nomes propostos. A 28 de Outubro, Alia Alatas só vetou o nome de Jill Jollife. A 26 de Outubro, Portugal suspende a visita enquanto se mantiver o veto a Jill Jollife. A prevista deslocação dos deputados portugueses a Timor, prevista para Outubro de 1991, suscitou imensas expectativas entre o povo timorense. Da parte da resistência, os timorenses ao longo de meses de trabalho clandestino estavam a preparar manifestações de apoio à delegação portuguesa e cartazes em que pediam a autodeterminação de Timor contra a ocupação indonésia. Da parte dos integracionistas estavam também a preparar manifestações contra a visita. Mas quando se soube que a visita ia ser cancelada, geraram-se reacções mais contraditórias: os indonésios e os pró-itegracioanistas ficaram satisfeitos pelo cancelamento e um grande sentimento de desilusão invadi os da resistência desiludidos. De Facto, sob o comando de Xanana Gusmão estava-se pensar uma grande manifestação em Díli. Em Setembro de 1991, a Igreja escreve uma carta pastoral dando orientações aos fieis caso a visita dos deputados portugueses se viesse a concretizar. Entre os dia 21 e 27 de Outubro desse ano, um grupo de jovens pró-independência refugiou-se na residência dos pároco de Motael (em Díli). No dia 27 à noite, elementos dos serviços secretos indonésios e de timorenses “ninjas” e “mahu” invadem os espaços da igreja de Motael, provocando distúrbios, e em consequência disso, houve duas vítimas mortais; da parte da resistência o jovem Sebastião Gomes foi assassinado, e da parte da integração, outro jovem de nome Afonso Henriques encontrou a morte. Por volta das duas horas de madrugada os sinos começaram a repicar dando sinal de assalto. Fui acordado pelo contínuo “tring-tring” do telefone. Era o meu cunhado Valentim dos Reis Alves que me chamava de Audian: “Amo, ema assalta ona Igreja Motael!” (Estão a assaltar a Igreja de Motael). Chamei o meu conduto, Mau Kai e dirigi-me ao recinto da Igreja de Motael. Ao longo da estrada havia soldados e policias armados. Em Motael, as pessoas que ali se encontravam em situação de sobressalto e aflição. Perguntei aos presentes: “O que é que aconteceu” – Ninguém respondia. Pergunto ao Padre Ricardo: “O que é que se passa aqui?”. O padre manteve-se em silêncio e só olhava para mim. Um jovem que se encontrava junto do padre sussurrou:: “Amo, sira oho tiha ona Sebastião.”(Senhor Bispo, mataram o Sebastião). Onde é que o mataram? pergunto eu: “Amo, iha Igreja oin, latan hela iha nebá…). Dirigi-me ao local. O rapaz que uma semana antes me tinha acompanhado na visita pastoral que fiz à estação missionária de Lolotoi, jazia ali, á beira da estrada, sem vida. O senhor Governador Mário Carrascalão que entretanto chegara ao local; foi ver o cadáver do Sebastião.Virou o corpo do jovem ; as costas estavam crivadas de balas…Disseram-me que havia outro morto, este da parte dos “Mau Hu”, mas não conseguimos ver o seu corpo, porque já antes da nossa chegada, fora levado para o hospital. Esse jovem era natural de Watolari e chamava-se Afonso de Jesus e morava para os lados do Bairro Pité. Estive lá até às 5 de madrugada. Pelas 5.30 chegava o vice governador com o comandante militar e pediram autorização para revistar a Igreja, pois na torre e no coro, estavam ali escondidos alguns jovens. Às seis horas fui até Fatumaca levar jovem Olandino Xavier Fernandes ao Colégio. Regressando a Díli, dirigi-me á residência dos pais do Sebastião Gomes, na zona de Vila Verde, para apresentar as minhas condolências á família. Dali segui para o Biarro Pité, onde rezei junto do caixão do Afonso. Pelas 16 horas, presidi à Eucaristia do corpo presente, na Igreja de Motael e acompanhei o féretro do jovem Sebastião Gomes até o Cemitério de Santa Cruz. O Jovem Sebastião era natural de Waimori, Viqueque. Tinha uns dezoito anos. Andava no SMA, mas faltava muitas vezes às aulas, porque dizia: “Mais vale perder o exame do que perder a independência”. Ele um rapaz alto e tinha um corpo atleta. Nas viagens que fiz a Watolari e Bobonaro, pedi-lhe para me acompanhar e ser ajudante do meu motorista. Na viagem que fizemos a caminho de Maliana, ele ao ver o território indonésia, dizia cheio de orgulho: “ Amo, qualquer dia, aquelas montanhas serão nossas!”. Chegado a Lolotoi enquanto eu ia confessar e rezava missa ou crismava, ele mantinha os seus contactos com os jovens da resistência. Semanas antes, tínhamos estado em Watocarbau (Lesi-Rubi). Ele não parava na Igreja. A Missão dele, era outra, contactar os colegas da resistência…
O MASSACRE DE SANTA CRUZ A 12 DE NOVEMBRO
No dia 12 de Novembro, Terça-feira, celebrou-se na igreja de Motael uma missa de sufrágio por alma de Sebastião Gomes. (Era o décimo quinto da morte do jovem da resistência. Assistiram a essa cerimónia cerca de mil pessoas, na sua maioria jovens (rapazes e raparigas). A missa foi celebrada pelo então pároco, pe. Alberto Ricardo, e hoje Bispo de Díli, começou as 6. horas de manha. À comunhão abeiraram-se muitos jovens para da mesa eucarística. Recordo dois dias (Domingo) muitos foram confessar-se comigo em Lecidere; outros fizeram a sua confissão noutras igrejas. Depois da missa, organizou-se um cortejo em direcção ao cemitério de Santa Cruz, onde seriam colocadas coras de flores sobre a campa e acenderia as velas em memoria de Sebastião Gomes. E, depois seguiriam para Lecidere, onde estava situado o Hotel Turismo, para ai se manifestarem diante do Raporteur das Nações Unidas, o holandês Peter KOOIMANS. Durante o percurso, rezavam o rosário. Havia alguns mais entusiastas que gritavam “Viva povo maubere, viva Timor leste independência”, o que obrigava os organizadores a manterem a disciplina: “Eh! nonok; Eh! disciplina, Eh!ordem,”. Mesmo assim notavam-se no cortejo grupos de Intel timorenses, que ao passassem diante do Kodim, atiravam pedras contra os edifícios. Houve quem desse uma facada a um major indonésio, chamado Gerhana.. À medida que o cortejo avança, iam-se juntado mais pessoas, sobretudo estudantes. Em Balide, os alunos do Externato de S. José e do Colégio “Santo Yosef”.dirigido pelo Jesuítas, saíram das salas e integraram-se na procissão. Chegados ao recinto do cemitério, muitos dos jovens saltaram para os muros do cemitério e começaram a gritar : “Viva Povo maubere”, “Viva Xanana Gusmão”, “Viva Timor Leste Independente”, outros continuava a rezar. E eis que do lado de Taibessi surge um pelotão de soldados indonésios, armados, e vestidos de camisolas brancas, entra no cemitério dos soldados indonésios (Makam Pahalawan), e sem aviso prévio disparam metralhadas sobre os manifestantes. Era mais ou menos 8.35, hora local. Os que estavam em cima dos muros caiam como passarinhos inanimados, Gera-se grande confusão dentro do cemitério. Os mais hábeis saltam por cima das campas e do cerco, saem do cemitério correndo para sítios mais seguros. Outros são mortos do cemitério; muitos ficaram aí cercados; foram esbofeteados, e apanharam coronhadas. Um grupo de 150 recolheu-se na casa do Bispo em Lecidere. Outros tentaram chegar até lá, mas foram interceptados, presos, torturados. (até o um cozinheiro foi preso e espancado). Entretanto, em Santa Cruz, os soldados indonésios trataram logo de levar os corpos e de lavar o chão com restos de sangue. O Senhor Manuel Carrascalão que por ali passara disse que viu um “hino” (camião militar) a carregar 50 corpos.
Entretanto, à minha casa em Lecidere (Paço episcopal, os jovens que ficaram ilesos do troteio foram chegando, rapazes e raparigas, alguns já feridos, e outros ofegantes, cheios de pó e suor. Tinham chegado também dois jornalistas americanos, feridos e ensanguentados e cheios de suor (Alam Nair jornalista do New Yor Times e Amy Goodman da rádio WBAI. Estavam apavorados. Rapidamente me contaram o que tinha acontecido. Ao jornalista Alan Nair tive de dar uma camisa minha para ele vestir, pois a que trazia estava empapada de sangue e de suor. Pouco depois seguiram para o aeroporto de Comoro e saíram de Timor. Outro jornalista, de Nova Zelândia, Kamal Bamahdja, que seguia no cortejo, foi morto. Outro, Max Stahl, que filmou parte do massacre, escapou-se. Foi graças ele que o mundo viu as imagens do cemitério. De Santa Cruz. Ele, estava no cemitério, quando os soldados dispararam sobre os manifestantes. Prestes a ser apanhado, escondeu o filme debaixo de uma pedra em cima duma campa. Por volta das 11 horas voltou para lá e consegui retirar o filme, que depois foi entregue ao padre Walter, salesiano belga. Este foi ao aeroporto e entregou a uma senhora holandesa, que levou para Holanda .O vídeo foi para o ar na Grã Bretanha no inicio da semana seguinte, 18, de Novembro e depois para todo o mundo.
Entretanto, na Indonésia, os meios da comunicação social falavam de um simples incidente e de um conflito entre grupos rivais da GPK (Fretilim, comunista).
Voltando aos jovens que se tinham refugiado em Lecidere. Naquela manhã do dia 12, Terça-feira, celebrei a missa na capela de Lecidere, e contava sair às 8.00 h para o escritório, no edifício da Câmara Eclesiástica um edifico situado em frente do Porto de Díli. Entretanto, chega uma pessoa que queria falar comigo. Estávamos na conversa na escadaria, quando oiço tiros de metralhadoras: “tra,tra, tra…”, durante dois minutos. Eram 7.40. Nisto, vejo grupos de jovens que vinham a correr cheios de aflição em direcção à minha casa, e, sem me pedirem autorização entram pela casa dentro. Pergunto: “O que é que acontece?”- Ninguém respondeu. Chegam outros com sinais de terem sido atingidos pelas balas. Chegava também o Reitor do Seminário, Pe. Karol Albrecht Karim, SJ, que me dizia:”Uskup, houve uma matança no Cemitério de Santa Cruz!” Aos jovens sentados debaixo das mangueiras e dos coqueiros, mandei-os entrar para o pátio interior. O número ia crescendo. Vendo que era já uma multidão, e, estando a par do que se tinha passado, mandei-os entrar para dentro da “Casa da Divina Providência”. Minutos depois telefonei ao Senhor Governador Mário Carrascalão, pondo-o ao corrente do que se estava a passar. Ele respondeu-me que estava a par dos acontecimentos e que iria passar pela minha casa para ver os jovens ali refugiados. Pelas 11 horas desloquei-me ao Cemitério da Santa Cruz. Seguia também para lá a esposa do Governador, Dona Helena Carrascalão. Quando chegamos ao local, vimos soldados indonésios armados com cara de poucos amigos. Alguns ao verem-me, começaram a rogar pragas dizendo palavrões em Indonésio e Tetun. Entrámos dentro do recinto do cemitério. Estavam 70 jovens de corpo nu e com as mão sobre a cabeça. Iriam ser conduzidos para as camionetas e levados para o Kodim de Díli, onde seriam mais tarde barbaramente torturados.
Dirigi-me à capela do Cemitério e vi que estavam ali seis ou sete jovens gravemente feridos. Conheci um, que era professor na missão de Ermera. Pediu-me água (Amo, Hau hamrok). Apenas me ajoelhei e dei-lhe a bênção. Voltei para Lecidere. O recinto estava cercado por soldados indonésios. Falei com os jovens que não podiam permanecer mais tempo naquele local, pois isso poderia provocar a entrada dos soldados indonésios na minha casa. Ofereci-me para os levar ás suas casas e aldeias. Contactei o padre Indonésio Markus Wanandi, jesuíta e director do Colégio santo Yosef. A partir das 12.30, acompanhado pela irmã canossiana Margarida Soares, fui levando grupos de seis ou sete para as suas casas, em diferentes bairros da cidade. Uma vez chegados ao bairro, eles teriam de procurar refúgio, escondendo-se em casas dos familiares ou porventura, afastarem-se de Díli, indo para as montanhas. Infelizmente, muitos deles, foram apanhados e levados para os comandos militares. Outros, sentindo-se inseguros, voltaram para Lecidere. Naquela noite, recebi um telefonema de um seminarista de Mauchiga, dizendo-me que o cunhado dele, enfermeiro, tinha lavado 70 cadáveres. Nessa mesma noite, segundo um jovem de Oecusee, Carlos Mustfa, 50 jovens foram levados para os lados de Tibar e ali foram fuzilados. Nessa mesma noite do dia 12, outros jovens foram mortos na casa mortuária, junto do Hospital: esmagavam-lhes cabeça com pedra e outros receberam injecções de água. Por volta das 22 horas, as luzes foram apagadas, e muitos corpos foram transportados para local desconhecido.
No dia 13, de manhã, desloquei-me ao Hotel Turismo para falar com o Raporteur da ONU, Peter Kooimnas. Perguntei-lhe se sabia do acontecimento do dia anterior, Disse que não sabia e que na altura dos tiros, encontrava-se nos escritórios do Comandante Militar Warrow a combinar uma visita a uma capela nos arredores de Díli. Quando lhe ouvi falar de capela, fiquei chateado e disse-lhe que as pessoas eram mais importantes que as capelas e que ele deveria interessar-se pelos abusos dos direitos humanos ali praticados pelos indonésios. Depois dirigi-me ao Comando Militar no Bairro de Farol para falar com o General Warrow, pedindo-lhe autorização para visitar os feridos no Hospital. A autorização foi-me dada no dia 14 de manhã. As dez horas dirigi-me ao Hospital em Lahane. Encontrei centenas de jovens feridos, com as caras toda negras, irreconhecíveis. Uns deitados nas camas e outros estendidos no chão, As enfermarias estavam superlotadas, outros estendidos nas varandas. Naqueles dias, a cidade de Díli era uma “cidade cemitério”: quase deserta…pairava um ambiente de medo, insegurança, luto e tristeza.
Quanto aos números de vítimas mortais: Há quem fala em 270, outros em 400. Eu sempre dizia, que era melhor perguntar aos indonésios, pois eles é que mataram, eles é que recolhram os corpos e eles saberão dizer onde é que deixaram: se no mar, se nas valas comuns, se nos lagos…
Depois do massacre, o Governo de Jakarta formou uma Comissão de investigação. (Os membros eram: o general reformado M. Djaelani, como presidente, e por seis membros, Hadi Alhadar, Clementino dos Reis Amaral, Beng Mang Ren Say, Hari Soegiman, o almirante Anton Sujata e o general Soemitro). A comissão, depois de vários inquéritos, chegou a conclusão que os mortos de Santa cruz foram 19, e os feridos 91. No relatório final, em vez do número 19, escreveram 50 o número de mortos.
O General Sinton Pajaitan Comandante da Região Militar Udayana IX, e o brigadeiro General Rudy Warrow foram destituídos dos seus cargos. Mas, mais tarde, o General Sinton Pajaitan foi escolhido para assessor do Presidente Habibie; O general Warrow, passou à reserva e foi nomeado vice-presidente da Comissão Nacional dos Desportos, o chefe da inteligência, Stephanus Gatot, passou à reserva e, tornou-se um dos administradores da Telecom Indonésia em Bandung. Os batalhões 330 de Jakarta e 700 de Sulawesi (Celebes) envolvidos no massacre, voltaram para os seus quartéis.. Líderes timorenses pró-integracionsitas recriminava a resistência e a Igreja por terem dados demasiado apoio aos jovens e reprovavam a atitude dos próprios jovens( O Buapti de Díli repetia com sarcasmo: “gara gara kaum muda GPK”.
No Mês de Dezembro, por altura do Natal, os Militares costumavam organizar celebrações ecuménicas do Natal, onde juntavam líderes das religiões oficias em Timor: catolicismo, protestantismo, islamismo, hinduísmo e budismo. Como protesto contra o massacre de santa cruz, nesse ano, decidi afastar-me de Díli, e fui passar o Natal em Kelicai.
Apesar da pressão internacional, para que a Indonésia melhorasse as condições dos direitos humanos em Timor, os militares intensificaram a acção militar no sentido de esmagar a Resistência e capturar os comandantes da guerrilha. O Comandante Xanana que estava escondido na casa de Dona Aliança Araújo, irmã do Sr. Abílio Araújo, um dos fundadores da Fretilin, foi preso pelas cincos de manhã, do 20 de Novembro de 1992, pelos comandos indonésios (Kopassus). Levado para Denpasar, ali foi torturado e obrigado a apoiar a integração. Foi julgado e condenado. Mesmo preso consegui resistir até ser libertado em Setembro de 1999. Os jovens continuavam a fomentar manifestações. O seu substituo Mau Hunu foi preso em Abril de 1993, em Ainaro. O substituo de Mauhuno foi Konois Santana, e a seguir Taur Matam Ruak.
Em 1996, O Comité Nobel de Oslo decidiu atribui o Prémio Nobel da paz a dois timorenses. Em 1998, a República da Indonésia entra em recessão económica e o Presidente Suharto que governava Indonésia desde 1965 foi obrigado a demitir-se. Como terceiro presidente da RI, escolheu-se o Vice-presidente e antigo Ministro da Tecnologia Yusuf Habibe. Sopravam ventos favoráveis à causa timorense. Os estados Unidos e a Austrália, mudam a sua posição e aconselham o Governo Indonésio a realizar uma consulta popular ao povo Timorense. O presidente Habibie tomou a decisão de anunciar em Janeiro de 1999, a realização de uma consulta popular, apresentando duas opções: a primeira, aceitação autonomia dentro da republica da Indonésia, ou rejeição da autonomia. No Referendo de 30 de Agosto de 1999, 87,5 dos Timorenses escolheram a não autonomia, e consequentemente a autodeterminação.
A Independência segundo o Direito Internacional foi reconhecida em 20 de Maio de 2002.
Foi um longo período de sofrimento. Mas os timorenses estavam dispostos correr todos os riscos para serem livres e soberanos do que ser integrados na Indonésia. Por isso, muitos diziam em Tetun, quando eram perseguidos, presos e torturados. “Ukun Rasik–aan”.
Respeitando as famílias que perderam os seus filhos, podemos afirmar que as vidas dos jovens e adolescentes que foram massacrados no dia 12 de Novembro de 1991 serviram de trampolim para a continuação da Luta e para a Independência de jure e de facto de Timor Leste. Em memória desses Mártires da Pátria timorense, elevo a Deus as minhas humildes preces pelos vivos e pelos mortos, presto a minha mais alta homenagem aos que tombaram no Cemitério de Santa Cruz! “Ditosa Pátria, que tais filhos teve!” "
Mogofores, 12 de Novembro de 2008.
Dom Carlos Filipe Ximenes Belo
nota: neste texto de D. Ximenes Belo, não consta o nome do fotógrafo free-lancer Steve Cox que estava a fazer um trabalho sobre as pessoas que dormiam nos cemitérios com receio de serem levadas de suas casas pela calada da noite ... Steve Cox, escassos dias depois do massacre, esteve em Portugal para denunciar a carnificina que testemunhou no cemitério de Santa Cruz... em 1995 foi editado um livro com as suas imagens e texto de Peter Carrey: TIMOR-LESTE Gerações de Resistência, pela Editorial Caminho. Ainda há muito mais História que tem de ser escrita para que a memória não se apague ou que interesses o façam.
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